quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Máquinas de escrever

– Chefe! Estamos com um problema.

– O que foi?

– Ninguém consegue trabalhar depois que atualizamos as máquinas!

– Como é que é?

– Ninguém consegue...

– Isso eu ouvi! Mas como assim ninguém consegue trabalhar?

– Estão todos reclamando! Tem gente dizendo que não recebeu treinamento, que não foram avisados da atualização...

– Mas isso é o fim do mundo!

– Já avisaram que não vai dar para soltar o relatório do semestre no dia...

– Mas nem o relatório? Quem autorizou a atualização?

– Foi o senhor...

– Eu? Mas quando?

– Foi depois que o pessoal da área técnica disse que teríamos que fazer a atualização.

– Volta!

– Como é que é?

– Volta tudo! Tira as Remingtons do almoxarifado e devolve as Olivetti!

Bons tempos em que aprendiamos a datilografar. Quando mudávamos de emprego ou a empresa comprava novas máquinas, ninguém reclamava. Remington, Olivetti, IBM... todas conviviam no mesmo ambiente de trabalho sem que nenhum usuário de uma máquina reclamasse que não conseguia ler o que outro escrevia em outra máquina.

Aprendiamos a datilografar.

Hoje aprendemos Word. Aprendemos WordPerfect. Aprendemos WordStar. Hoje não aprendemos mais a escrever. Durante um certo tempo existiam cursos de digitação que rapidamente cairam no esquecimento pois com o computador em casa, qualquer um sabe como digitar. Ou sabe?

Em projetos de migração que participei, a reclamação mais frequente era: “Isso eu não sei usar!” Será? Será que uma pessoa inteligente, com capacidade de aprender não consegue olhar para um teclado, uma folha em branco e saber como escrever?

Caimos no golpe da solução pronta. Emburrecemos. Acreditamos na história que datilografia é coisa do passado. Compramos a idéia que precisamos aprender a usar os produtos que nos são empurrados convenientemente quando compramos um novo computador. Ficamos viciados em formatos de arquivos que obrigam a todos com quem nos relacionamos a comprarem os mesmos programas que usamos.

Fico pensando: Como posso obrigar meu pai, aposentado, a gastar R$ 800,00 numa cópia do Office para ler os textos que escrevo? Faço uma cópia pirata?

Quando vejo um edital de concurso público em que se exige conhecimento de Word, imagino a quantidade de candidatos que correm aos camelôs para comprar cópias “alternativas” ou aos amigos para copiá-lo pois mal tem dinheiro para pagar a taxa de inscrição do concurso.

Precisamos reaprender a datilografar.