quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Por Que Blogs?

Porque estamos em um momento histórico único.

Pela primeira vez a campanha de uma eleição presidencial em um país desenvolvido se desenrolou na Internet. Pela primeira vez qualquer um com acesso à rede tem acesso instantâneo a informações sobre o que acontece em praticamente qualquer lugar do mundo. Pela primeira vez pudemos acompanhar uma guerra ao vivo. Pela primeira vez uma crise financeira virtual atingiu em cheio a economia real.

Pela primeira vez temos acesso à informação crua e sem filtros.

Chegamos a um ponto em que, parafraseando o Dimenstein, se você sabe de algo pelos jornais, é porque não lhe interessa.

Mas parece que temos um problema com o acesso a este volume de informações. Apesar de termos acesso a todos os dados, não sabemos exatamente o quê está acontecendo no mundo. E muito menos o por quê.

Daí a necessidade dos blogs.

Diferente dos jornais, blogs não têm um compromisso, mesmo que parcial, com a imparcialidade. Blogs externam a opinião do autor sobre um determinado tema ou evento. Podemos acompanhar uma guerra pelos jornais, mas se formos aos blogs dos lados envolvidos, veremos que há muito mais por trás da notícia. Com opiniões, mesmo que divergentes, passamos a ter um enquadramento, um contexto onde a notícia passa a fazer sentido.

A quantidade de blogs em existência (incluindo este meu) é um reflexo da quantidade de pessoas dispostas a ajudar a enquadrar a informação. Chegamos a 50 milhões de blogs em 2006. Em 2007 nascia um blog a cada segundo, número que chegou a 2 por segundo em 2008.

Segundo a Technorati, desde que começou a coletar estatísticas sobre blogs, já passamos de 133 milhões. E este número continua a crescer.

Há blog para todos os gostos. De brincadeira, gozação, opinião, tecnologia.... enfim, para cada faceta da atividade humana, parece haver um blog.

Acho que o motivo é simples. Gostamos de saber o que os outros acham sobre determinado assunto. E gostamos de ou concordar ou discutir. Especialmente discutir. Não lembro de nada melhor para criar uma sensação de participação em uma comunidade que discutir política na frente da banca de jornal do Café Nice em Belo Horizonte. A mesma coisa acontece agora. O blogueiro tem uma opinião sobre um acontecimento e a posta no seu blog. Imediatamente diversas pessoas passam a discutir aquele tema, expandindo e estendendo a compreensão de todos os envolvidos sobre o ocorrido.

Seja sobre o boato de um novo lançamento, uma fofoca sobre uma celebridade, política, politicagem, ou qualquer outro tema, os blogs são as novas bancas na frente do Nice: um local onde nos reunimos para discutir, ou simplesmente ouvir o que outros acham.

Feliz ano novo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Uma ideia simples

Às vezes alguém tem uma ideia simples que pode provocar mudanças muito interessantes. Até hoje, sempre tentei evitar imprimir desnecessariamente, pensado apenas na economia de papel. No entanto, quando imprimimos alguma coisa, o papel é apenas uma parte do resultado. Consumimos tinta, toner, plástico (para os cartuchos) e mais uma quantidade impressionante de materiais tóxicos (como o cádmio usado nos cartuchos de impressão).

Isso sem falar que cartuchos de marca são caros e os genéricos não duram muito...

Economizar tinta e toner sempre foi difícil para mim que escrevo muitos textos e não imprimo fotos ou coisas do gênero. Sempre pensei que apenas reduzindo a resolução e a quantidade de páginas impressas, já estaria fazendo possível.

Isso até agora, quando uma empresa holandesa de criação e design foi mais criativa que o normal e lançou uma fonte TrueType modificada para consumir até 20% a menos de tinta ou toner. A fonte Spranq Eco Sans (http://www.ecofont.eu) é furada, como alguns queijos, mas é perfeitamente legível quando impressa ou mesmo quando usada em tamanhos normais.

Ainda falta avaliar o impacto do uso desta fonte no final do mês mas, se tudo der certo, a HP vai amargar uma perda de até 20% no faturamento de toner da minha impressora...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Adotar, estender, extinguir

Para quem não se lembra, o título deste post vem da estratégia que a Microsoft vem usando faz muito tempo. Originalmente, a expressão era "embrace, extend, then innovate" e foi cunhada por J Allard em 1994 em um memorando interno da empresa. A parte que interessa é a seguinte:

"De forma a construir o respeito necessário e ganhar as mentes da comunidade Internet, recomendo uma receita que não é diferente da que usamos com os nossos esforços com o TCP/IP: adotar, estender e então inovar. Fase 1 (Adotar): todos os participantes precisam estabelecer um entendimento sólido da infra-estrutura e da comunidade - determinar as necessidades e tendências da base de usuários. Só então podemos habilitar os produtos de sistemas Microsoft a serem grandes sistemas Internet. Fase 2 (Estender): estabelecer relacionamentos com organizações e corporações apropriadas com objetivos semelhantes aos nossos. Oferecer ferramentas e serviços integrados compatíveis com padrões estabelecidos e populares que tenham sido desenvolvidos na comunidade Internet. Fase 3 (Inovar): mover-nos para um papel de liderança com novos padrões Internet quando apropriado, habilitar títulos de prateleira com capacidades Internet. Mudar as regras: o Windows se torna a ferramenta Internet de nova-geração do futuro."[1]
Já em 1995, segundo a ação antitruste movida contra a empresa, a expressão tornou-se "embrace, extend and extinguish". Esta idéia passou a nortear muitas das estratégias da empresa com exemplos como o próprio Internet Explorer que incorporou muitas "inovações" que só ele suportava, o Active Directory, baseado nos mecanismos de autenticação do Kerberos e os serviços de diretório do LDAP que mudaram tanto que não é mais compatível com nenhum deles sem muito trabalho. Isso sem falar das adaptações à JVM que, na prática, criaram por algum tempo uma JVM Microsoft que ninguém, a não ser ela, podia implementar.

Mas o que isso tem a ver com o ODF? Recentemente a Microsoft anunciou que o seu produto Office terá suporte nativo ao ODF já em 2009. Esta notícia foi acompanhada pela outra que a empresa irá participar do grupo do Consórcio OASIS que mantém o ODF. Esta notícia foi saudada por muitos como uma grande novidade, como sendo a capitulação da Microsoft, e outras expressões mais ou menos entusiasmadas.

Pessoalmente, acho preocupante a atitude da Microsoft. Depois de gastar muito dinheiro, esforço e imagem na farsa que foi a aprovação do MOOXML na ISO, ela simplesmente desiste de implementar o formato alegando que não há produtos que o suportem no mercado? E quanto ao próprio Office? Ah, me esqueci que a Microsoft já havia avisado ao mundo que não poderia se comprometer com o "padrão" aprovado.

Mas mesmo assim, será que a empresa acha que o MOOXML, por não ter produtos que o implementem, não merece ser implementado nem pela própria empresa que o criou? Não faz sentido.

Espero estar errado mas isso tudo me parece mais um ciclo da estratégia de adotar, estender e extinguir. Não ficarei nada surpreso quando o Office começar a implementar extensões que só ele é capaz de usar. A princípio, virão como pedidos de funcionalidades ou demandas dos seus usuários. Uma vez estabelecidos, no entanto, serão rapidamente transformados em "padrões de fato", deixando-nos novamente a ver navios, completamente dependentes e presos.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Crise da meia idade


Fugindo um pouco do tema deste blog, estou postando aí ao lado a minha crise de meia idade. É um jeep Kaiser Willys M-606 de 1964. Mesmo ano em que nasci.

Devagar vou restaurar o que for possível e ir publicando os resultados aqui.

É um carro com história bastante interessante.

O M-606 é a versão militarizada do CJ3B, um carro utilitário fabricado pela Kaiser no período de 1964 a 1967. O "Cara de Cavalo", como ficou conhecido no Brasil, foi rejeitado pelo mercado norte-americano por ser considerado feio. Vá lá... gosto não se discute. O que me atraiu neste modelo específico é justamente a ausência de frivolidades. É um carro onde a função ditou a forma e não o contrário, como ocorre hoje com a grande maioria dos carros 4x4 disponíveis no mercado.

Até onde pude apurar, sou o terceiro dono deste carro que foi comprado por um civil em um leilão do exército.

Agora é botar a mão na graxa e ver o que consigo fazer com ele.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Apoio descartável

Começou a debandada. Os países que se associaram à ISO como membros "P" e que votaram a favor da aprovação incondicional do MOOXML começam a deixar a organização. Líbano, Turquia, Chipre e Trinidad e Tobago já deixaram a vetusta organização.

A lista de membros P pode ser vista na própria ISO.

Será que voltam a se associar quando precisarem deles de novo?

terça-feira, 22 de abril de 2008

Esperar o anunciado

Contra fatos não há argumentos, já diz a sabedoria coletiva. O que acho cômico são reações de surpresa a notícias como a que o Office 2007 falha em teste de conformidade com o OOXML. Será que alguém realmente se surpreendeu com isso? Não bastaram os avisos e declarações de pessoas como o Don Mahoug sobre o tamanho do mercado que a Microsoft estava defendendo? Pelo jeito não foi suficiente sermos alertados pelo Brian Jones para o fato que
"é dificil para a Microsoft se comprometer com que for produzido pela Ecma nos anos que virão, porque não sabemos qual a direção que os formatos tomarão. É claro que nos manteremos ativos e proporemos mudanças baseadas no que queremos para o Office 14."
A única novidade foi no tempo. Não foi no Office 14. Foi agora, com o próprio Office 2007, aquele produto que deveria ser a implementação de referência do OOXML. Incompetência, falta de coordenação entre as ações da empresa ou simplesmente descaso com o formato "aprovado" pela ISO, o fato (contra o qual não há argumentos) é que a empresa que gastou tanto dinheiro, esforço e imagem na defesa de um "padrão" não o implementa corretamente no próprio produto que deveria ser a referência.

E o que acontece agora? O padrão foi aprovado, o produto de referência existe mas não atende. E agora?

Agora, é esperar, nas palavras do próprio Alex Brown:
"Given Microsoft's proven ability to tinker with the Office XML file format between service packs, I am hoping that MS Office will shortly be brought into line with the 29500 specification, and will stay that way. Indeed, a strong motivation for approving 29500 as an ISO/IEC standard was to discourage Microsoft from this kind of file format rug-pulling stunt in future."
Ou seja, só resta a esperança, vaga e vazia, que a Microsoft resolva aderir ao OOXML.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

FIQ

Todo mundo tem uma FAQ, aquela lista de perguntas freqüentes (Frequently Asked Questions na antiga língua bretã). A ISO apresentou a sua para o processo de aprovação do OOXML que me lembra um outro tipo de lista, a de perguntas frequentemente ignoradas (Fequently Ignored Questions).

Montar uma FAQ é fácil quando não é necessário publicar a lista das perguntas recebidas sobre um determinado tema. Quem publica a lista decide quais as perguntas mais freqüentes e as responde da forma que achar mais conveniente.

Em listas técnicas ou fóruns de suporte, a FAQ geralmente representa as dificuldades mais freqüentes encontradas pelos usuários desta ou daquela solução. Mas como deve ser a lista de perguntas feitas à ISO com relação à aprovação do OOXML? Acho que nunca saberemos realmente tudo o que foi perguntado. Mas uma lida rápida na FAQ da ISO revela algumas pérolas que podem esclarecer como o processo funciona.

A primeira resposta explica como realmente funciona o processo de Fast Track. A ISO não decide, quem decide são os membros P da ISO e as organizações "A" como a ECMA. Ou seja, se você tem uma especificação e maioria em uma organização como a ECMA, ela pode ser apresentada pelo processo de Fast Track. A ISO considera que os membros P e as organizações com este direito já devem ter feito o dever de casa antes de pedir o início do processo.

Outra resposta interessante reflete a posição da ISO sobre padrões sobrepostos. Essa eu tenho que citar diretamente:

The ICT industry has a long history of developing multiple standards providing similar functionalities. After a period of co-existence, it is basically the market that decides which survives.

Ou seja, a ISO apenas chancela os padrões, o mercado que se vire.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Próximo Passo

Para aqueles que ainda acreditam em Papai Noel só porque o Coelhinho da Páscoa contou...

Com a santificação do MOOXML pela ISO, começam a aparecer os consultores "independentes" preocupados com questões "mais importantes" começam a dar sinais dos próximos passos na novela do MOOXML.

Agora é o sr. Jan van den Beld, coincidentemente ex secretário geral da ECMA, que não só defende o processo de fast track como realizado como aconselha governos nacionais a não definirem um padrão para documentos pois isso poderia ferir regras da Organização Mundial do Comércio e expor estes países a ações legais.

As declarações deste consultor podem ser lidas em http://www.lowyat.net/v2/latest/the-openxml-standardisation-update.html

Mas o que isso quer dizer? Porque usar consultores para mandar recados?

Por que agora que o MOOXML é um padrão ISO e a Organização Mundial do Comércio possui políticas que impedem o uso de padrões como barreiras não tarifárias ao livre comércio.

Isso é mais um indicador que uma certa companhia não irá trabalhar para suportar o ODF em seus produtos, por mais que seus clientes peçam. Não é mais necessário. Depois de subverter o processo da ISO, o próximo passo é cooptar a OMC e alguns governos para fazer o seu trabalho sujo...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Parabéns

Acho que é só o que tenho a dizer: parabéns.

Parabéns a todos que ajudaram a seqüestrar o processo da ISO. Parabéns por mostrar como é possível manipular e dirigir um processo através da mão pesada do poder econômico. Parabéns por terem reconhecido que os interesses de uma empresa se sobrepõe aos direitos dos indivíduos de seus países. Parabéns por se dobrarem. Parabéns por assumirem abertamente a defesa de interesses que não são os dos seus países. Parabéns.

Parabéns também àqueles que mantiveram a sua integridade. Parabéns por terem tido a coragem e a retidão de manterem-se aliados a seus princípios. Parabéns pelo trabalho duro de ler e analisar milhares de páginas de documentos destinados a ofuscar a verdade, encontrando e apontando problemas que foram simplesmente ignorados pela maioria dos interessados.

Só não posso dar os parabéns à própria ISO, a única a perder com a forma como tudo foi conduzido. Talvez ainda seja possível à organização recuperar um pouco de dignidade. Mas isso vai levar muito tempo.

2 de abril de 2008 é uma data que vai para a história da ISO. Pena que por motivos não muito nobres.

quinta-feira, 20 de março de 2008

A Mulher de Cesar

A mulher de César deve estar acima de suspeitas
(Gaius Julius Caesar)


É triste ver como uma organização como a ISO se prestou a ser palco de uma das tentativas de cooptação de processos mais deslavada da qual tenho notícia. Digo tentativa pois o voto final não foi dado e ainda é possível à ISO e aos órgãos nacionais que participam do JTC1 fazer a coisa certa. Mas a cada nova notícia que leio, minha esperança na lisura do processo diminui.

Depois de aceitar em "fast track" uma especificação de mais de seis mil páginas, gerada às pressas por uma empresa interessada apenas em preservar um mercado cativo de mais de 10 bilhões de Dólares por ano, onde foram apontados mais de 3.500 defeitos, a vetusta organização produz uma farsa onde, sob estrita omertà, e sem resolver nada, dá prosseguimento ao processo de transformação do MOOXML em um padrão ISO.

O capítulo mais recente dese teatro do absurdo apareceu hoje no Groklaw, avisando da mudança do procedimento para alteração de voto. Como em todas as ações da ISO até agora, o procedimento publicado dá margem a interpretações e pode, inclusive, dar margem para desconsiderar alterações de votos. Não se surpreendam se organizações nacionais que alterarem seus votos para "não", tenham alguma dificuldade em ter as suas decisões validadas pelo novo procedimento.

Seja qual for o resultado, não haverá vencedores. Mas já temos um perdedor. A partir do MOOXML, a ISO terá que se esforçar para justificar a sua razão de ser.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Essencial e Incidental

Temos todos uma mania crônica: tratar o incidental como se fosse o essencial. Quando temos febre, tomamos um antitérmico sem nos preocuparmos com o que a está causando. Nos preocupamos com o saldo da nossa conta corrente sem pensar nos gastos que nos levam ao cheque especial. Reclamamos do consumo do carro sem pensar nos nossos próprios vícios ao volante.

Ao confundir o incidental, que não existe por conta própria, com o essencial de qualquer situação, deixamos de discutir o que realmente interessa. Gastamos horas discutindo sobre um conjunto de situações que podem ser resolvidas apenas com a correção da essência do problema. Passamos meses discutindo se o mosquito da dengue era municipal, estadual ou federal, sem mover uma palha para resolver a essência do problema: educação e saneamento. Agora temos a febre amarela batendo à nossa porta e, com ela, novas discussões intermináveis sobre o incidental. A essência do problema continua: continuamos com deficiências graves em educação e saneamento.

A publicidade gerada pela “guerra dos padrões” na ISO é só mais um reflexo desta nossa mania. Páginas e páginas foram gastas tratando da guerra entre o Office e o OpenOffice.org, entre IBM, Sun e Google, de um lado, e Microsoft, do outro. Essa mania de discutir o incidental transformou uma discussão sobre padrões, sobre modelos estabelecidos e abertos para a troca de informações, em uma batalha por um mercado que rende US$ 11.000.000.000,00 (isso mesmo onze bilhões de dólares) por ano à Microsoft.

É preciso discutir o essencial. Precisamos de um modelo aberto e público para a troca de informações, fora do controle de uma companhia específica. Até porque companhias são incidentais neste processo. Microsoft, WordPerfect, WordStar, Carta Certa e tantas outras foram meros incidentes na essência do problema: a falta de um padrão público e aberto para a troca de informações.

Discutir o incidental neste momento apenas torna o problema, em sua essência, cada vez mais grave e de difícil resolução. A geração de documentos eletrônicos não para. A cada dia mais e mais documentos públicos são gerados em formatos fechados tornando a organização e recuperação de informações um sonho cada vez mais distante.

A cada nova rodada de discussões evita-se o essencial. Publica-se o incidental como se fosse verdade absoluta. Patina-se na resolução do problema.

É preciso parar de discutir a febre e sanear as comunidades.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Cultura: Preservação e renascimento

Gálico é uma daquelas línguas sobre as quais só sabemos notícias quando vemos algumas placas de trânsito no norte da Escócia. Segundo a Wikipedia, a língua é falada pelos nativos do norte das ilhas britânicas há mais de 1.500 anos. O seu uso, no entanto, começou a declinar ao longo do tempo chegando a ser proibida em 1616 quando um ato do parlamento afirmava que o Gálico deveria ser abolido e removido da Escócia. Com a inclusão da Escócia como parte do Reino Unido em 1707 e a revolta de 1745, a língua foi praticamente banida, inclusive com a persiguição e exílio das populações vindas das regiões onde o Gálico era predominante. O Gálico passou a ser falado apenas nos pontos mais afastados, onde a autoridade instituida não chegava, tornando-se praticamente um dialeto, uma curiosidade local.

Corte rápido de 260 anos.

Em 2005 o Parlamento Escocês aprovou uma lei, o Gaelic Language Act, que reinstituiu o Gálico como língua oficial da Escócia e estabeleceu um plano nacional para o ensino da língua. Em paralelo, surgiu o projeto Gálico do OpenOffice.org.

Com pouco mais de 50.000 falantes em 2005, o Gálico não era (e ainda não é) considerado um mercado atrativo para o desenvolvimento tradicional de software. Qual a empresa que, devendo explicações aos seus acionistas, "gasta" milhares ou talvez milhões de dólares no desenvolvimento de um conjunto de aplicativos para "apenas" 50.000 pessoas?

Com o apoio do LT Scotland, um órgão governamental destinado a prover recursos tecnológicos para escolas, o projeto realizou a localização do OpenOffice.org para Gálico, tornando-se o software de escolha para escolas, serviços públicos e a população em geral.

Como o OpenOffice.org foi o primeiro software desenvolvido em Gálico, o próprio projeto resultou em uma evolução acelerada da língua. Depois de 260 anos, novos termos tiveram que ser cunhados para o uso no novo ambiente.

Com ferramentas e um renovado interesse na língua, novos projetos surgiram. E não apenas em software. Em 2006, Chris Young, um jovem cineasta escocês, lançou o filme "Seachd — The Inaccessible Pinnacle" totalmente rodado em Gálico. Um verdadeiro renascimento literário e musical surgiu no país chegando à criação de um canal exclusivo em Gálico pela BBC em 2008.

Apesar de pequena, a população que fala Gálico vem aumentando e um novo sentimento de orgulho nacional e cultural que passa até por detalhes que consideramos "menores" como a adoção de placas de trânsito bilíngues.

Neste renascimento do Gálico em tempos de sociedade da informação, não teria sido possível sem o uso de ferramentas que permitissem aos falantes usar a tecnologia em sua própria língua.

Apesar de pequeno em números, o projeto Gálico do OpenOffice.org demonstrou, de forma clara e irrefutável, como o Software Livre pode contribuir para a preservação da cultura.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Agora são as Macros (VBAway) - Atualizado

<atualização>
Depois da celeuma, uma postagem no Blog dos desenvolvedores do Excel informa que ao contrário do que foi anunciado, não há planos para retirar o suporte VBA do Excel para Windows.

Pelo jeito foi apenas mais um "engano".
</atualização>

Depois de bloquear (por engano) formatos de arquivos antigos e de terceiros que considera "inseguros", a Microsoft mostra mais uma vez como é perigoso confiar a uma única empresa o controle sobre os seus documentos eletrônicos.

Agora são as macros VBA que já foram devidamente desabilitadas no Office 2008 para o Mac e que estão com os dias contados pois não deve mais existir suporte a VBA no Office 2009.

O resultado imediato será sentido por todos os usuários de Mac que tiverem optado por atualizar o pacote do Office: qualquer documento ou planilha que use o VBA para automatizar qualquer coisa, não funcionará. É simples assim. Lembra daquela planilha Excel que o RH demorou anos para aprimorar? Não funciona no Office 2008 para o Mac e não funcionará mais no Office 2009. Todas as macros terão que ser reescritas, todas as funcionalidades refeitas.

Todo o trabalho jogado fora.

O risco de se atribuir a uma única empresa o controle sobre o formato dos arquivos de armazenamento de documentos fica cada vez mais claro quando vemos como a Microsoft se preocupa com o "legado" de documentos existentes. Aliás, fica cada vez mais interessante observar a imensa distância entre intenção e gesto desta empresa.

Enquanto, por um lado, a Microsoft defende o OOXML como sendo o santo graal da interoperabilidade, um formato de armazenamento que defende e garante a sobrevivência do grande volume de documentos nos diversos formatos .DOC, .XLS e .PPT existentes, por outro, se esmera em forçar os seus usuários a migrar para novas tecnologias e implementações que visam justamente acabar com este legado que ela diz querer proteger.

A diversão não acaba...

Ao impedir que os usuários do Office para Mac executem macros, a Microsoft tenta atingir um outro objetivo, impedir o crescimento desta plataforma em ambientes corporativos. Com as macros VBA funcionando apenas em Windows, qual será a plataforma para a qual as empresas migrarão para manter seus documentos e planilhas funcionando? Com certeza não será o Mac.

Pessoalmente, não sinto falta das macros VBA. Muito pelo contrário, devido à insegurança da implementação, o VBA foi responsável pela explosão dos famigerados vírus de macros que se mostraram muito "populares" em um passado não muito distante. Mas muitos usuários se tornaram dependentes do VBA. Muitas pequenas empresas dependem de macros escritas em VBA para automatizar processos internos.

Para quem quiser continuar com o Office como plataforma, é bom preparar o bolso. De acordo com a Microsoft, além do Vista e do Office, também terá que ser usado o Visual Studio Tools for Applications ou o Visual Studio Tools for Office.

E isso tudo até a próxima mudança. Sempre em nome da "segurança" e do "melhor" para os usuários.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

De quem são os arquivos mesmo?

Uma nota publicada no Slashdot reforça o risco de depender de formatos fechados de arquivos para o armazenamento de documentos eletrônicos.

A Microsoft resolveu que determinados formatos de arquivos não são mais seguros e simplesmente os bloqueou dentro do Microsoft Office após a instalação do Service Pack 3 para o Office 2003. Além dos arquivos gerados por versões "antigas" do Word e do PowerPoint, uma série de arquivos como os gerados pelo Lotus 123 e arquivos de transferência de informações como .dif e .slk também foram bloqueados.

Tudo em nome da segurança.

O que esta ação da Microsoft mostra não é uma preocupação com a segurança de seus usuários mas antes, uma ação unilateral que força estes mesmos usuários a migrar para novos formatos de arquivos através da migração para novas versões do Office.

Muitos usuários do Office 2003 somente perceberão o problema quando precisarem abrir arquivos antigos que, por um motivo ou outro, deverão ser recuperados. Quando chegar este dia, estes usuários descobrirão, surpresos, que os seus arquivos não são seus. Descobrirão que aqueles documentos importantes cujos conteúdos são necessários para as suas atividades, não são considerados como "seguros" pela Microsoft e por isso não podem mais ser abertos.

Acredito que se havia alguma dúvida com relação à utilização de padrões abertos, esta dúvida foi derrubada pela própria Microsoft. Os arquivos .doc, .ppt, .pps e qualquer outro que não seja considerado "seguro" no seu disco não são seus. Você apenas aluga o arquivo para nele armazenar um documento.

O argumento de segurança também é falho. Um arquivo não é inseguro. Inseguro é o software que o trata. Se o Office 2003 é incapaz de tratar um arquivo antigo de forma segura, há um problema com o Office e não com o arquivo.

É interessante notar também que o principal argumento da Microsoft em defesa do Office Open XML é derrubado pelo lançamento deste Service Pack. Só para lembrar, segundo a Microsoft, o OOXML leva em consideração o imenso volume de arquivos em formato .doc mantidos por usuários no mundo inteiro. Estes arquivos devem ter sua representação garantida no novo formato. Porém, com o Service Pack 3, muitos deste arquivos que deveriam ter sua portabilidade garantida foram simplesmente bloqueados.

E agora? De quem são os arquivos mesmo?