quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma questão de cola

Tenho o hábito (mania?) de colecionar os rótulos dos vinhos que tomo. Tenho certeza que não estou sozinho neste hábito (mania?) pois uma pesquisa rápida no Google retorna com centenas de cadernos, adesivos especiais e um monte de recursos para a manutenção da dita coleção de rótulos.

Uma coisa que percebi ao longo da pilha de rótulos e anotações é que a cola usada nos vinhos varia tanto de país para país como de região para região. O Novo Mundo adora uma cola quente, o que facilita horrores na remoção do rótulo. Para estes eu prefiro encher a garrafa com água quente e esperar uns 5 minutos até que o rótulo possa ser simplesmente descolado e recolado na folha da coleção. Simples e rápido.

Já os vinhos do velho mundo... É uma loteria de colas que não tem fim. Há vinhos portugueses e espanhóis usando cola quente. Outros usando colas à base de água para os tintos e algum outro componente sintético para os brancos. Para a maioria destes é possível colecionar o rótulo deixando a garrafa de molho ou usando a tal água quente. Outras descolam o rótulo sozinhas apenas com o suor da garrafa gerado pelo entra e sai do balde de gelo. E mesmo assim há algumas garrafas que resistem bravamente em ceder os seus rótulos, exigindo combinações de água quente, água fria, gelo e até mesmo, em alguns casos extremos, facas e papel contact.

E finalmente, há os franceses. Ah, os franceses. Não sei que diabos de cola inventaram na França que praticamente não deixa nenhum rótulo sair inteiro. A retirada de rótulos de garrafas de borgonhas é uma tarefa que beira a compulsão: Banhos de água quente, de água gelada, testes com solventes... O máximo que consegui em algumas delas foi descolar o rótulo da sua base de cola, deixando-o tão frágil quando um papel de seda molhado que se desfaz e rasga quando o retiro. Algumas páginas da coleção de rótulos mais parecem quebra-cabeças pois tive que colar os pedaços um a um.

Já pensei em parar de retirar rótulos e passar a fotografá-los. Não é a mesma coisa. Há algo de mágico ao ver o rótulo daquela garrafa que tomei naquele dia ao som daquele LP (sim, tenho vinis que gosto muito de ouvir e "reouvir").

Admito e continuo com o hábito (mania?). Vou continuar tentando. Se conseguir descobrir alguma fórmula mágica de retirada de rótulos, aviso por aqui.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Cocô do Cachorro

Faz um bom tempo, me contaram uma "piada" mostrando a diferença entre os Estados Unidos, a França e o Brasil. Já vou avisando que a piada é sem graça, depreciativa e generaliza negativamente... Mas vamos lá que faz sentido:

Nos Estados Unidos, o seu cachorro, devidamente treinado, faz cocô na sarjeta. Você, como dono responsável e cioso dos seus deveres e responsabilidades pega o saquinho plástico que previdentemente trouxe no bolso, coleta o dito cocô, e o joga na lata de lixo apropriada mais próxima; mesmo que isso implique em caminhar mais meia hora com um saco de merda na mão.

Na França (mais especificamente, em Paris), o seu cachorro, devidamente treinado, faz cocô na sarjeta. Você, como bom citoyen parisien, sabe que em alguns minutos, um veículo da prefeitura, especialmente preparado para a tarefa, irá passar e limpar a merda que o seu totó fez.

No Brasil, o seu cachorro, treinado ou não (mas desconfio que treinado, pois é impossível fazer tanta merda em local tão inapropriado), faz cocô (vamos fingir coerência no texto) na calçada. Você, como dono irresponsável e inconseqüente (isso mesmo, com trema e tudo), vai embora e deixa aquela merda toda no meio da rua, mesmo sabendo que ninguém da prefeitura vai limpar aquela merda e que muito provavelmente o seu vizinho irá pisar nela e espalhar a alegria pela calçada.

Dizem que somos o pior de dois mundos. E na minha caminhada de hoje, quase cheguei a concordar. Não pelo cocô (cocô que nada! Merda mesmo!) de cães, que imagino monstruosos, pela calçada (aliás, calçada em Brasília deveria se chamar de esburacada pois calçamento é o que menos tem) mas pelas demonstrações de descaso total com o público que vi.

Explico.

Nos fundos de uma casa, vejo os restos de uma poda de cerca viva jogados em cima da faixa exclusiva para ciclistas e restos de jardinagem. Parei para ajudar um valente ciclista a remover os restos de uma bouganville da faixa. Para quem nunca viu, a tal bouganville (ou primavera nestas latitudes) tem espinhos de mais de dedo de comprimento. Depois de alguns minutos recolhendo galhos espinhosos, ainda torço para o nobre ciclista não ter furado um pneu ao sair de lá.

Um pouco mais à frente, uma montanha de terra vermelha escorre pela (tá bom, vamos lá para manter a suposta coerência lingüística) calçada. Parece que algum vizinho está fazendo a cobertura da grama e para não sujar a varanda, está usando a calçada dos fundos como depósito de terra.

E isso tudo em uma unica caminhada de quase uma hora por um bairro dito nobre, o Lago Sul de Brasília. Uma área do Distrito Federal que se orgulha da qualidade de vida européia: com educação formal, água, luz e (finalmente, depois de anos) esgoto. Mas como uma mentalidade dos piores rincões e baixios do coronelismo folclórico. Um bairro onde alguns parecem acreditar que a área pública é de serventia da casa. Onde vizinhos não se conhecem e não se interessam.

Atenção senhores vizinhos. Antes de reclamarem de qualquer coisa do governo local, olhem para os seus próprios quintais e calçadas. Somente reclamem se forem realmente civilizados.

Felizmente, ainda há aqueles ciclistas que precisam de ajuda para limpar a merda dos outros. Aqueles que precisam de ajuda para tornar a civitas a praça pública da qual todos podem usufurir. Por isso, hoje, quase acreditei na piada. Se não fosse o tal ciclista que ajudei, ainda haveria restos de bouganville na faixa esperando um incauto.

sábado, 16 de outubro de 2010

Controle e Poder

Há alguns dias, traduzi uma postagem do Rob Weir com o título "Como Sufocar a Dissidência". Nele, o Rob mostra como a tecnologia trouxe consigo um potencial de controle sobre a informação inimaginável anos atrás. Hoje é possível para um governo, dadas as condições legais, controlar de forma absoluta o tráfego de informações em meio digital permitindo, ou não, a livre comunicação entre pessoas. Questões como a neutralidade da rede ganham importância fundamental quando pensamos neste contexto.

É importante lembrar que este tipo de controle governamental só pode, em tese, ser exercido se houver uma legislação que o permita. Pelo menos, no chamado "Estado de Direito" em que vivemos hoje.

Mas eis que, justo no Brasil, surge um substitutivo de um Senador por Minas Gerais a um Projeto de Lei, com o nobre propósito que nos proteger de ataques e das coisas horríveis que acontecem hoje na Internet. Um substitutivo que torna ilegais até coisas como copiar uma música de um site qualquer. Rodar um programa P2P para ajudar na distribuição de uma nova versão do LibreOffice? Ilegal. Mandar um e-mail com fotos para a sua namorada? Ilegal, conforme o conteúdo. Manter sua rede doméstica sem fio, aberta? Poderá até dar cadeia. Se o substitutivo for aprovado como está o mero acesso a um site poderá ser considerado ilegal. Só depende de quem interpretar a lei.

É um projeto de lei que dará ao estado um poder semelhante ao que foi imposto em 24 de janeiro de 1967 com o Ato Institucional Número 5, o AI-5 de infame lembrança. A "revolução" de 1964 e o AI-5 nos mostraram não apenas o perigo de um estado autoritário mas, principalmente, o perigo de atribuir poder político ao policial da esquina.

A diferença é que agora, existem os meios tecnológicos para exercer este poder de forma absoluta. Evoluímos tanto no meio digital que a queda de um roteador ou uma pane em um link de telefonia nos impedem de nos comunicarmos. Nos habituamos a um fluxo constante de informações e nos esquecemos que, sem a neutralidade da rede, sem a garantia da privacidade das comunicações digitais, sem a garantia da cidadania digital, estamos mais expostos que nunca aos mandos e desmandos de novos déspotas digitais.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Domaine de la Perruche 2009

A uva cabernet franc e o trabalho dos Vigneron Independant não para de me surpreender. Dessa vez foi uma garrafa indicada pelo Leonardo da Vintage Express do Brasília Shopping.

É um vinho mais pesado no álcool que o Chateau la Variére que compro lá e do qual sou fã convicto. Mesmo assim, é um vinho que se apresenta jovem, cordial, com variadas notas de frutas vermelhas.

Acho que o que mais me impressiona é ver como uma mesma casta de uva se apresenta tão distintamente através das mãos dos vinheiros que as cultivam. Vindo de um cultivo de 45 ha em Montsoreau, o Domaine de la Perruche me parece ser um vinho com alguns anos pela frente antes de se igualar ao "primo" la Variére.

Ainda assim, é um vinho que merece ser experimentado, nem que seja apenas para conhecer mais um vinheiro independente que insiste em produzir o seu vinho de qualidade em terras nas quais se cultivam uvas desde o século XV.

sábado, 2 de outubro de 2010

Chuva!

Finalmente posso dizer que vi a chuva em Brasília! Acordei hoje com o som da chuva, felizmente do lado de fora da janela. É impressionante como um som pode ser tão agradável e estranho ao mesmo tempo.

É sério. Já havia esquecido de como era o barulho da chuva.

E, como não poderia deixar de ser, o fornecimento de energia elétrica daqui da área onde moro começou a falhar. Tenho para mim que a CEB está testando um novo tipo de cabo ecológico, com isoladores feitos de açúcar. Bastou uma gota d'água para falhar o fornecimento.

Ao longe um estampido. Pelo jeito mais algum transformador da CEB estorou com a chuva...

Depois do almoço posto as anotações sobre o "Chicken a la King" e o vinho que escolhi. Isso, é claro, se o vinho me deixar em condições.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Vivo Zap 3G com Huawei E156 no Ubuntu Lucid

Já rodei atrás de soluções para o caso deste modem que uso no trabalho. Desde o dia em que o recebi, não consegui fazer o desgraçado funcionar com o Network Manager. O principal sintoma era que o Network Manager ficava tentando, tentando, tentando e desistindo...

O mais irritante é que o Gnome PPP funciona que é uma beleza. Por algum motivo que não consegui identificar, o Network Manager não conseguia iniciar uma sessão PPP. Foram dias de pesquisa para nada dar certo.

A motivação desta busca é a API de notificação de rede que é usada pelo Firefox, Evolution, Thunderbird e mais uma série de aplicações que dependem dela para entrar e sair da rede. E principalmente, porque não quero ter um componente que não funciona direito.

Enfim. Tentei de tudo um pouco, reconfigurações do DBUS, PPPD, AppArmor... nada. Continuava o mesmo sintoma com o Gnome PPP conectando sempre e sem falhas.

A solução apareceu em uma atualização do NetworkManager que acabei de instalar. A página no Launchpad dá as instruções de instalação. Foi instalar o build de hoje que o sabonetezinho da Huawei começou a funcionar. E o melhor, com o adaptador de MiniSD e o emulador de CD ativos...

Espero que essa atualização chegue logo ao ramo principal. Não dá para ficar sem ela.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Como Sufocar a Dissidência

Esta é uma tradução de um post do Rob Weir no seu blog. O texto original encontra-se aqui.

Enquanto estive em Berlin para a conferência LinuxTag 2010 há alguns meses, tive a chance de fazer uma caminhada de 12 quiilômetros pela cidade, indo da Warschauer Strasse e a
East Side Gallery até a Wittenbergplatz e a KaDeWe, aproveitando os diversos pontos históricos ao longo do caminho. Foi uma ótima revisão de história européia do século XX. Uma exposição de rua na Alexanderplatz, tratava das revoluções de 1989 através dos vários movimentos e publicações dissidentes da Alemanha Oriental. Muitas destas eram boletins samizdat, distribuídos furtivamente e copiados em máquinas de escrever e papel carbono, prensas improvisadas e, mais tarde, em alguns computadores pessoais contrabandeados do ocidente. Havia um Amiga 500 e uma impressora NEC Pinwriter P6 usados em 1989. Através desta tecnologia "avançada", a produção de documentos pode aumenter de algumas centenas para dezenas de milhares de cópias.

Enquanto olhava a mostra de publicações samizdat, cada uma um sinal de luta técnica e política, me senti presunçoso. Certamente tudo isso é irrelevante hoje em dia, não? A marcha da tecnologia pôs nas mãos de cada um de nós ferramentas que são muito mais eficientes e efetivas que qualquer publicação "underground" de 1989. Com a Web, o WordPress, Twitter, YouTube e outros serviços, podemos enviar uma mensagem instantaneamente para milhões de pessoas. Estamos muito mais avançados agora.
Pelo menos pensei isso por alguns breves minutos, até que a horrível verdade me atingiu quando considerei melhor a questão. A tecnologia não tornou a dissidência mais segura. Temos apenas sorte que o clima político de 2010 permite mais dissidência. Mas, se desafiados, os poderes de hoje tem ferramentas muito melhores para o controle da informação do que dispunham em 1989. Não estou certo que as ferramentas disponíveis aos indivíduos estão, sequer, próximas da capacidade de enfrentá-las.
Acredito que a capacidade de dissentir é complemento essencial para uma liderença falha. E toda liderança é falível. Sem esta capacidade, as transições de poder podem até ser menos frequentes, porém serão mais sangrentas.

Note que eu disse "capacidade" de dissentir. Não quero dizer que a dissidência deva ser legalizada. É certo que é uma coisa boa e está protegida nas constituições de muitas democracias de hoje. Acho que é algo mais fundamental, a capacidade de indivíduos e grupos se organizarem e expressarem sua dissenção, mesmo quando isso vai contra a lei. É quase certo que um regime que tenda ao autoritarismo irá, muito cedo, declarar a dissenção illegal. A história nos mostra isso repetidamente. Logo, a capacidade de expressar dissenção ilegal é, em algum sentido, até mais importante que a habilidade de expressá-la de forma legal.

Através do século XX foram muitas as tentativas de reduzir a capacidade de exprimir dissidência, desde tornar ilegais partidos políticos de oposição ao fechamento de jornais independentes, até o registro mandatório de máquinas de escrever. Todas elas tornaram a dissidência mais difícil e arriscada, mas não retiraram a capacidade. Ainda era possível para uma pessoa, ou para um grupo, se organizar secretamente e divulgar a sua mensagem. Isso era feito de forma ilegal e até mesmo colocando suas vidas em risco. Mas era o suficiente para girar as engrenagens. Se 10 pessoas protestavam, eram chamadas de loucas e internadas. Se 1.000 pessoas protestavam, usava-se gás lacrimogêneo e eram presas. Mas se 100.000 pessoas protestavam, o governo caia. De certa forma, a gama que vai da guerra civil a uma eleição aberta e democrática, passando por protestos nacionais no meio do caminho, apresenta subsitutos ao uso da força. Há formas sangrentas ou não de se determinar a opinião da maioria e a prudência sugere não eliminar a oportunidade de usar as formas pacíficas.

Minha triste observação é que estamos rapidamente atingindo o ponto, talvez pela primeira vez na história, onde governos terão os meios para eliminar até mesmo a capacidade da dissenção ilegal. Acredito ser este um limite desestabilizador para ser cruzado.

Veja a seguinte situação. Imagine que estamos de volta a 1985 na Alemanha Oriental mas ao invés de máquinas de escrever, tenhamos todas as facilidades tecnológicas do século XXI: a Internet, Twitter, YouTube, etc. Você é um dissidente e eu sou o governo.

Suas duas missões principais são:
  • Colaborar eletronicamente com terceiros confiáveis enquanto protege o conteúdo da comunicação e a identidade dos demais.
  • Publicar a informação de forma anônima ou através de pseudônimo para consumo público.

Você não seria um bom líder dissidente se não tentasse estas duas tarefas e eu não seria um regime opressor muito bom se não tentasse impedí-lo!

Então, onde eu deveria começar?
  1. Uma rede nacional privada. Pense na Coréia do Norte
  2. Um Grande Firewall
  3. Registro mandatório de computadores e contas de Internet.
  4. Controle do DNS
  5. Controle das buscas
  6. Controle das Autoridades Certificadoras
  7. Marcação invisível de papel e tinta
  8. Uma monocultura de software que permita um ponto único de controle governamental
  9. Limites na quantidade de emails que podem ser enviados. Alguns podem até dizer que seria benéfico contra o spam mas também dificulta uma organização efetiva.
  10. Tornar ilegal a criptografia forte
  11. Reduzir o devido processo legal, tornando trivial a solicitação extra-judicial de registros de provedores sem revisão judicial.
  12. Tornar ilegal tecnologias de contorno
  13. Copyright — impedir o "fair use", Creative Commons, etc., extendendo o copyright aos registros públicos.

É interessante ver o quanto já avançamos nesta lista, em especial graças à indústria fonográfica e ao lobby do copyright.

E quais capacidades você tem do outro lado? Quais as suas habilidades para expressar sua dissidência? Acho que o exemplo do Wikileaks salta aos olhos. Isso mostra um exemplo de um site que através de mecanismos técnicos e jurisdicionais parece ter evitado a sua derrubada por uma entidade mais poderosa. Pelo menos até agora. No entanto, acho que isso é uma vitória de Pirro. A simples existência do Wikileaks incentivará os governos a adotar leis mais rígidas, investir em mais tecnologias de contra-informação, como o "Kill Switch" da Internet proposta pelo Departamento de Homeland Security nos Estados Unidos. A existência de uma voz sem controle certamente levará a uma concentração do controle dos pontos chave da Internet que, mais cedo ou mais tarde, silenciarão aquela voz. Quando uma força irresistível encontra um objeto inamovível pode-se especular sobre quem levará a vitória. Eu coloco as minhas fichas no lado com o dinheiro e as armas. O perigo para o resto de nós é que na tentativa de controlar um meio para o exercício absoluto da livre expressão, criam-se pontos de controle que darão a futuros regimes a habilidade de sufocar dissidências e ao eliminar dissenções, elemina-se a melhor oportunidade que temos para revoluções pacíficas.


É claro que não defendo a sedição. E não defendo a livre expressão absoluta. Há questões relacionadas a copyright, privacidade, segredos militares e pornografia infantil. Todas estas limitam a livre expressão. Mas acho que isto significa que tornamos estas atividades ilegais e as restringimos vigorosamente. Deviamos também estar procurando pelos requisitos técnicos mínimos necessários para detetar os violadores sem introduzir tecnologias que, em um nível matemático de certeza, eliminem a habilidade para que estas atividades ocorram. Se assim o fizermos, estaremos intruduzindo, ao mesmo tempo os mecanismos que também poderão ser usados para impedir a discordância política. Estas tecnologias podem surgir inicialmente sob a bandeira da "segurança nacional" ou para a "proteção da propriedade intelectual", mas esta seria sua intenção e não a sua limitação técnica.


Seria necessário um mau aluno de história para não notar que em diversas ocasiões no século passado, governos passaram por períodos em que se tornaram mais que zelosos nas suas tentativas de assegurar um algo grau de consenso visível entre os seus cidadãos. Quando isso ocorrer, é bom ter avenidas para perseguir um discurso honesto e direto. Certamente não é desejável que seja muito fácil derrubar um governo estabelecido mas também não se quer que isso seja matematicamente impossível. É desejavel manter um equilíbrio tendente à estabilidade enquanto se reconhece que as forças de revolução são tão construtivas quanto destrutivas. Temos mais de 400 anos de experiência equilibrando a liberdade de expressão com os interesses legítimos de governos declararem alguma expressão como ilegal. Até hoje isso foi feito sem a concentração de recursos técnicos e administrativos suficientes para exercer restrição prévia absoluta.


Isto está mudando. As consequências não pretendidas de tal concentração de poder devem nos fazer parar e hesitar ao invés de corrermos adiante. A criação do que seria uma bomba nuclear contra a liberdade de expressão, um grande botão vermelho que, quando pressionado, possa silenciar toda uma classe de discurso, deve ser evitada.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Departamento de Marketing

Esta semana aconteceu o III CONSEGI - Congresso Internacional Software Live e Governo Eletrônico. Três dias de um grande evento do qual, infelizmente, só pude participar por um dia e meio se contar o tempo todo que passei lá na Escola de Administração Fazendária. Foi gostoso rever amigos e descobrir que há uma nova geração de universitários interessados nos temas que começamos a discutir anos atrás. Também foi um pouco decepcionante ver que estamos discutindo e divulgando o tema há anos e até hoje as dúvidas dos “novos” continuam as mesmas. É preciso chegar com o Software Livre ao público em geral.

Acho que estamos fazendo um bom trabalho na discussão de temas relevantes: liberdade, compartilhamento, desenvolvimento, autonomia, soberania... São todos temas importantes e críticos ao nosso desenvolvimento, tanto individual quanto nacional. Temos pessoas extremamente competentes discutindo temas extremamente relevantes mas não temos ninguém que consiga levar a mensagem para a platéia da novela das oito.


As empresas, na sua maioria, ainda vêm o Software Livre como uma forma de economizar. Não reconhecem no modelo vantagens estratégicas ou tecnológicas. O Linux e o BrOffice são apenas formas de pressionar a Microsoft por melhores preços no Windows e no Office. Esta situação precisa mudar.


Acho que estamos prontos para o próximo passo. Precisamos de um departamento de marketing para o Software LIvre. Precisamos de uma campanha de divulgação contínua que mostre as vantagens (sociais, tecnológicas, estratégicas e econômicas) que só o modelo do Software Livre trás. Temos as ferramentas e temos as pessoas. Começamos a aparecer na mídia com o UCA, com os NetBooks pré-instalados com softwares abertos e livres. Estamos em um ponto onde será preciso muito pouco para podermos parar de explicar porque se deve usar Software Livre.


Precisamos começar logo.

sábado, 31 de julho de 2010

Innominabile

Minha busca pelo vinho nacional continua. Esta semana descobri uma pequena loja perto de casa, a Arte e Vinho. Uma coleção prá lá de interessante de rótulos aguarda quem visitar o comércio local do SMDB na região do Lago Sul em Brasília. O perigo destas pequenas lojas é que o proprietário costuma não apenas conhecer do assunto mas também aprecia um bom dedo de prosa sobre vinhos.

Conversando com o Marcelo, dono do Arte e Vinho, ele me sugeriu esta jóia da serra catarinense. (Vou precisar tirar alguns dias de férias só para conhecer a região). Já comentei aqui sobre o Joaquim, um excelente vinho produzido por lá que se destaca pela busca de uma personalidade própria e não da imitação de fórmulas consagradas em outras regiões. Este Innominabile segue a mesma proposta.

Na busca pela personalidade própria, a Villagio Grando montou um corte de Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec Pinot Noir e Petit Verdot de diversas safras que impressiona. Na receita, a Villagio reserva 20% da safra atual para ser misturada à próxima fazendo com que a identificação da safra seja algo muito fluida e, cá pra nós, desnecessária.

A garrafa que tomei é composta de um corte de vinhos produzidos entre 2004 e 2007 e o cuidado na elaboração dele é visível. Não é um vinho difícil de ser apreciado pois os aromas de frutas e especiarias (pimenta do reino aparece com certeza) o tornam muito agradável. Ao mesmo tempo, não encobrem os demais aromas e sabores que lhe dão uma complexidade muito interessante.

Da primeira à última taça, é um vinho que mantém o interesse e que se abre em novas facetas a cada novo gole.

Não sei se ainda é muito cedo para falar mas a Serra Catarinense me parece ter se tornado a região de vinhos finos do Brasil.

Achei na Arte e Vinho (SMDB - CL - CJ. 12 - Bl. H, Loja 101)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Chateau la Variére - Anjou 2008

É sexta-feira e me permito gastar um pouco mais. Passo na Vintage Express e peço uma recomendação. Duas coisas me chamaram a atenção o suficiente para comprar esta garrafa: o fato de ser um cabernet franc e a menção "vigneron independant" no lacre.

Faz tempo que não tomo um cabernet franc e, confesso que quase tinha me esquecido do que essa uva é capaz e que, infelizmente, é geralmente muito maltratada por alguns produtores sul americanos. Este Variére, ao contrário, mostra um respeito com o vinho que eu não esperaria em um equivalente nacional do mesmo preço.

É um vinho equilibrado, com fruta o suficiente sem ser excessivo e amadeirado o bastante sem ser opressivo. Como muitos dos grandes vinhos franceses, é um vinho leve no álcool (apenas 12,5%). O Variére vem do vale do Loire onde a família Beaujeau mantém um vinhedo de 68 hectares da cabernet franc.

É aí que entra o selo de "vigneron independant". A Vignerons Independant de France é uma associação que promove os vinhos dos pequenos, logo "independentes", produtores da França. Esta associação surgiu para defender os pequenos viticultores da força massificante das grandes cooperativas agrícolas que passaram a vender vinhos misturados de diversos produtores.

Quem dera tivéssemos o mesmo tipo de associação para os pequenos produtores de cachaça no Brasil.

Achei na Vintage Express por R$ 65,00

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Quinta do Casal Branco

Este fim de semana tive a oportunidade de experimentar um vinho que já havia comprado faz tempo. Sabe daqueles que a gente compra para experimentar depois? Pois trata-se do próprio. Gosto muito dos vinhos portugueses. Além dos nomes curiosos para as uvas como Trincadeira, Baga, e Touriga Nacional, os portugueses conseguem criar inúmeros sabores em um território bem apertado.

Este Ribatejo é um grande exemplo disso. Consistindo de um vinho branco, um tinto, um rosé e de uma marca de azeite, a Quinta do Casal Branco conseguiu produzir um tinto de grande qualidade que mereceu o terceiro lugar da Wine Enthusiast em 2008.

O Tinto da Quinta do Casal Branco é um corte onde as uvas Castelão, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet são mescladas com arte, produzindo um vinho elegante, com aromas de frutas vermelhas (quase compotas) e ao longe um quê de chocolate. A acidez é correta, tornando-o um vinho que pode muito bem acompanhar uma carne mais gordurosa no jantar ou mesmo um queijo em um happy-hour.

É um vinho equilibrado, fácil de beber e que não guarda surpresas mas mantém o interesse até o fim da garrafa.

Neste vinho, os portugueses aprenderam a atender à demanda por vinhos mais alcóolicos, mas os 13,5% não pesam, sendo muito bem integrados aos demais sabores e aromas.

Achei na Vintage Express. O preço posto depois.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Almoço de domingo

Ontem resolvi me aventurar na cozinha. De vez em quando bate aquela vontade de comer alguma coisa diferente que nem sempre vem acompanhada da vontade de ir a um restaurante. Afinal, na maior parte das vezes, deitar em um sofá após um bom almoço é parte indispensável de um fim de semana em casa.

Desta vez ataquei de um risoto de arroz negro com arroz selvagem que acompanhou um salmão na chapa com azeite de oliva. Isso precedido de uma salada de folhas e tomate cereja com quinua sobre um leito de moyashi que ficou muito melhor que eu mesmo esperava.

E, para acompanhar essa aventura com a família toda, arrisquei um Sendero Sauvignon Blanc 2008 , da Concha y Toro. Modéstia a parte, o conjunto da obra ficou muito bom.

O Sendero foi meu companheiro antes, durante e depois do almoço se mostrando um vinho capaz de se apresentar muito bem por conta própria e acompanhando um peixe de mais personalidade, que foi o caso do salmão que preparei.

Os leves toques cítricos reforçam a idéia que há uma coluna que sustenta o vinho. Ao redor desta, toques mais leves, como um pêssego em calda (bem chileno, diga-se de passagem) que ronda à distância sem deixar, no entanto, que o vinho fique doce. A acidez é suficiente para dar o frescor necessário para cortar o azeite da receita do salmão. Uma mistura muito agradável.

A acidez leve e as frutas na dose certa fizeram deste Sendero o companheiro ideal para uma tarde de domingo em casa.

Achei no Pão de Açúcar por R$ 27,00

sábado, 1 de maio de 2010

Haute Côte de Beaune - 2006

Recebi ontem, pelo correio, o catálogo de uma distribuidora de vinhos onde costumo namorar rótulos e, de vez em quando, comprar alguma coisa um pouco diferente e que geralmente me rende uma ou outra bronca em casa pela extravagância.

Neste catálogo, os preços dos vinhos de Bourgogne me chamaram muito a atenção. Não pela oportunidade, mas pelo exagero. Tudo bem que os borgonhas são, por conta própria, uma categoria extraordinaria de vinhos. Mas ainda não cheguei ao nível de pagar R$ 200,00 ou R$ 300,00 por uma garrafa sem sentir um desconforto no bolso. Quem sabe um dia...

Esse catálogo, no entanto, me lembrou o meu primeiro encontro com um Bourgogne. E faz pouco tempo, em Dezembro do ano passado.

Não poderia ser uma estréia mais interessante. O Haute Côte de Beaune é um vinho de mercador onde predomina o que Jean Baptiste Béjot entende que o mercado aprecia. Mesmo assim, é um vinho com alma, com uma acidez confortável que combina com comida e ainda permite que seja saboreado e descoberto por conta própria.

Ao contrário dos vinhos de competição, que se abrem desavergonhadamente no primeiro gole, este borgonha se esconde e brinca com a gente. O sabor está lá, atrás de uma suave camada ácida que não o perturba. Muito pelo contrário, o complementa e o realça à medida que a garrafa é esvaziada.

A outra coisa digna de nota é ver o que se faz com a uva Pinot Noir nesta região da França. Nada a ver com o Pinot "balinha" noir que encontramos vindo de vizinhos mais ou menos próximos. A uva aqui foi tratada com o respeito que merece, resultando em um vinho equilibrado, agradável e sem aquele gosto artificial de confeito de feira.

Em um tempo onde grandes borgonhas aparecem por valores astronômicos, este vinho do Béjot até fica parecendo barato.

Achei na Vintage Express por R$ 80,00

sábado, 17 de abril de 2010

Finca Sur - Chardonnay 2008

A chardonnay é uma uva aparentemente simples. São muito poucas as vinícolas que conseguem estragar o vinho produzido com ela.

Ainda bem que a Finca Sur é regra e não exceção. Um chardonnay honesto com boas notas de frutas e um leve toque de pimenta do reino no final.

O chardonnay da Finca é um bom, se não excelente, compromisso entre preço e qualidade: um branco correto, com bom sabor e corpo que, certamente, conforme o ano e o clima, pode até vir a produzir um grande vinho.

Em 2008, a Patagônia conseguiu prouzir um branco correto, suave e, de forma geral, muito bom pelo preço, uma característica que parece estar se tornando marca desta viícola.

Achei na Casa Ouro por R$ 24,00

sábado, 10 de abril de 2010

Finca Sur – Malbec 2008

Abri essa garrafa no último dia 3 de abril e, sinceramente, se mantiverem a qualidade esse Malbec vai dar trabalho para muita gente grande. Confesso que os 14° de álcool me causaram arrepios ao ler o rótulo mas garanto que apesar da potência, o equilíbrio deste Malbec é exepcional. Não fossem as lágrimas espessas, não daria tanto álcool assim para a taça.

Há uma presença marcante de cassis no nariz sem o exagero que poderia torná-lo mais um vinho balinha.

As notas de baunilha do carvalho novo estão lá, mas corretamente mescladas n'um pano de fundo que garante uma boa degustação.

A cor é intensa e realçada pelo colar de pérolas que se forma na linha onde q o vinho encontra a taça (mais uma indicação dos 14°).

Ao longe, um traço de ácido e um leve travo de tanino que prometem, enganam, mas não chegam a cumprir.

Um bom vinho para o dia a dia ou para aquele churrasco. Ainda mais pelo preço.

Achei na Casa Ouro por R$ 24,00

sábado, 3 de abril de 2010

Vinhos

De uns tempos para cá, comecei a me interessar por vinhos. Não apenas pela bebida mas principalmente pelo que ela representa. Cheguei à conclusão que beber um bom vinho não é uma questão de identificar o "terroir" ou qualquer outra característica que apenas os enólogos e iniciados são capazes de fazer. Beber um vinho é conversar com o seu autor (ou seu produtor, seu artesão, se assim preferirem). No fundo, e aí vem a minha conclusão, é bater um papo cabeça, ou não, com aquela pessoa que você nunca viu, nem dela ouviu falar, mas que compartilha com você todo um conjunto de preferências e gostos que você mesmo não sabia que tinha até experimentar daquela garrafa. Isso quando o vinho é bom.

Quando o vinho não é lá dos melhores, o papo continua, mas agora transformado em papo de bêbado chato, daqueles que só sabem falar "eu, eu, eu, eu" sem abrir espaço para uma réplica ou um novo assunto. Isso quando não se trata daquele chato que estraga o prazer de uma noite por ser tão ruim e marcante que mais nada vai dar certo até o dia seguinte.

Vou começar a transcrever aqui as minhas anotações (feitas em lápis No. 2 em caderno Moleskine [sim, sou tradicionalista neste ponto mas sobre isso falo em outro post]) para ajudar no diálogo com estes artistas da videira. Não pretendo bancar o enólogo ou o iniciado, apenas quero compartilhar com os amigos as conversas que tive com artistas que nunca vi (e com outros que nunca quero ver de novo).

Algumas serão piegas, outras mais sérias. Outras ainda, serão absurdas para quem entende do assunto. Não pretendo assumir o posto de assumidade, apenas quero mostrar do que gostei. ("Tá bom", de vez em quando também vou falar do que não gostei).

Vamos ver no que vai dar... Vinho e Software Livre pode bem vir a ser uma combinação interessante.