terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Cocô do Cachorro

Faz um bom tempo, me contaram uma "piada" mostrando a diferença entre os Estados Unidos, a França e o Brasil. Já vou avisando que a piada é sem graça, depreciativa e generaliza negativamente... Mas vamos lá que faz sentido:

Nos Estados Unidos, o seu cachorro, devidamente treinado, faz cocô na sarjeta. Você, como dono responsável e cioso dos seus deveres e responsabilidades pega o saquinho plástico que previdentemente trouxe no bolso, coleta o dito cocô, e o joga na lata de lixo apropriada mais próxima; mesmo que isso implique em caminhar mais meia hora com um saco de merda na mão.

Na França (mais especificamente, em Paris), o seu cachorro, devidamente treinado, faz cocô na sarjeta. Você, como bom citoyen parisien, sabe que em alguns minutos, um veículo da prefeitura, especialmente preparado para a tarefa, irá passar e limpar a merda que o seu totó fez.

No Brasil, o seu cachorro, treinado ou não (mas desconfio que treinado, pois é impossível fazer tanta merda em local tão inapropriado), faz cocô (vamos fingir coerência no texto) na calçada. Você, como dono irresponsável e inconseqüente (isso mesmo, com trema e tudo), vai embora e deixa aquela merda toda no meio da rua, mesmo sabendo que ninguém da prefeitura vai limpar aquela merda e que muito provavelmente o seu vizinho irá pisar nela e espalhar a alegria pela calçada.

Dizem que somos o pior de dois mundos. E na minha caminhada de hoje, quase cheguei a concordar. Não pelo cocô (cocô que nada! Merda mesmo!) de cães, que imagino monstruosos, pela calçada (aliás, calçada em Brasília deveria se chamar de esburacada pois calçamento é o que menos tem) mas pelas demonstrações de descaso total com o público que vi.

Explico.

Nos fundos de uma casa, vejo os restos de uma poda de cerca viva jogados em cima da faixa exclusiva para ciclistas e restos de jardinagem. Parei para ajudar um valente ciclista a remover os restos de uma bouganville da faixa. Para quem nunca viu, a tal bouganville (ou primavera nestas latitudes) tem espinhos de mais de dedo de comprimento. Depois de alguns minutos recolhendo galhos espinhosos, ainda torço para o nobre ciclista não ter furado um pneu ao sair de lá.

Um pouco mais à frente, uma montanha de terra vermelha escorre pela (tá bom, vamos lá para manter a suposta coerência lingüística) calçada. Parece que algum vizinho está fazendo a cobertura da grama e para não sujar a varanda, está usando a calçada dos fundos como depósito de terra.

E isso tudo em uma unica caminhada de quase uma hora por um bairro dito nobre, o Lago Sul de Brasília. Uma área do Distrito Federal que se orgulha da qualidade de vida européia: com educação formal, água, luz e (finalmente, depois de anos) esgoto. Mas como uma mentalidade dos piores rincões e baixios do coronelismo folclórico. Um bairro onde alguns parecem acreditar que a área pública é de serventia da casa. Onde vizinhos não se conhecem e não se interessam.

Atenção senhores vizinhos. Antes de reclamarem de qualquer coisa do governo local, olhem para os seus próprios quintais e calçadas. Somente reclamem se forem realmente civilizados.

Felizmente, ainda há aqueles ciclistas que precisam de ajuda para limpar a merda dos outros. Aqueles que precisam de ajuda para tornar a civitas a praça pública da qual todos podem usufurir. Por isso, hoje, quase acreditei na piada. Se não fosse o tal ciclista que ajudei, ainda haveria restos de bouganville na faixa esperando um incauto.

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