quarta-feira, 9 de maio de 2012

Coopetição

Com o lançamento do OpenOffice 3.4 pela Fundação Apache, um verdadeiro balaio de gatos parece ter sido jogado no meio da sala. De uma hora para outra antigas desavenças se exacerbaram, levando a troca de alfinetadas existente a níveis dignos de finais de Telecatch (para quem ainda é muito novo, recomendo ler a entrada da Wikipedia sobre o tema e procurar as gravações no YouTube). De restrições a utilização de marcas a arroubos dignos do pior ufanismo, acho que, se não vi de tudo, não quero ver mais nada. Só tenho certeza de uma coisa, todos esses que estão se alinhando em cantos opostos do ringue parecem ter esquecido que há espaço para todos e para todos há lugar.

Quando comecei a trabalhar com editores de textos, achava que o melhor deles era o WordStar em CP/M 80. Isso foi até descobrir o WordPerfect rodando em PC-DOS. Que maravilha! Tudo bem que a interface deixava um pouquinho a desejar. Ao chamar o programa, digitando wp na linha de comando, a tela ficava azul e o cursor ficava lá piscando no canto superior esquerdo da tela. Só isso. Assustava no começo mas depois de pegar o “jeitinho”, o poder de fogo do wp era imbatível.

Fiquei tão fã que quando a WordPerfect lançou uma versão para Windows (3.1) com uma opção de compatibilidade para OS/2, não tive dúvidas: comprei uma cópia. Tenho a caixa com os disquetes até hoje enfeitando a estante.

Um belo dia testei, e gostei, de um pacote nativo para OS/2, o StarOffice. Para mim era um conceito novo, um software que podia ser baixado de graça por pessoas físicas e que oferecia suporte pago para quem dele precisasse. Com uma interface nova em abas que integrava não apenas as funções de um pacote de escritório tradicional mas também um cliente de correio e um navegador web, logo passei a usar o StarOffice de forma exclusiva. Até a Sun comprar a StarDivision e fazer história, liberando o código do produto e iniciando o projeto OpenOffice.org.

O resto, como se diz, é história.

De lá para cá, no entanto uma coisa mudou: a forma como encaramos os documentos textuais. Até a chegada do ODF com o OpenOffice.org não havia separação clara entre o documento e o programa que o havia gerado. Isso gerava situações complicadas para mim que usava o WordPerfect.

Como vocês podem imaginar, o WordPerfect nunca foi muito popular no Brasil onde o Word 6 era mais usado e copiado. Com isso, muitas vezes me via na situação de ter que exportar um documento para um formato “neutro” que pudesse ser lido pelo Word. Quando era necessário preservar a formatação, não tinha jeito, a única solução era imprimir e mandar uma cópia por correio ou fax.

Entre outros méritos, o OpenOffice.org lançou a ideia que um documento eletrônico deve ser gravado em um formato aberto que seja independente do software que o gerou. Chegamos a um ponto onde este texto começou a ser escrito no LibreOffice, passou pelo novo OpenOffice e, para abusar da sorte e do ponto, foi terminado no AbiWord. Em todos usando o mesmo arquivo .ODT (OpenDocument Text).

É disso que se trata o lançamento do Apache OpenOffice 3.4, de mais um produto de qualidade que suporta e incentiva o uso do ODF como padrão para o armazenamento de documentos eletrônicos. Não se trata de competição mas sim de coopetição: diversos produtos concorrentes promovendo um interesse mútuo. No nosso caso, o padrão de documentos.

Quem quiser ficar de birra, que fique. Mas se você precisa de uma alternativa livre para abrir aqueles malditos arquivos .VSD, fique com o LibreOffice. Se a sua empresa tem restrições legais com relação ao uso de software GPL (sim, estou incluindo a LGPL nessa categoria), o Apache OpenOffice é uma excelente opção. Se a sua conexão for lenta e você acabou de instalar o Ubuntu com o Gnome Shell, use o AbiWord que funciona muito bem. O importante é usar e promover o ODF. Não interessa qual o seu editor de textos, sua planilha ou o seu programa de apresentação. O que interessa é que os documentos que você produza sejam gravados em um formato que não exija um software específico para ser lido.

E nesse quesito, quanto mais opções, melhor.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A fragilidade da marca

É impressionante como um pequeno serviço pode abalar tanto a visão que temos de uma marca. Passamos anos ouvindo que a concorrência (e os maridos das atrizes das propagandas) não eram "assim, uma Brastemp". Fixou-se a marca como algo confiável, diferente daquilo que encontrávamos no mercado.

Indo para um mês de geladeira quebrada e com um pedido de peça feito em 16 de março que até hoje não chegou a Brasília, vejo que o serviço da Brastemp não é "assim, uma Brastemp". Na verdade não chega nem perto da expectativa.

É triste ver que o trabalho de desenvolvimento de uma marca fica restrito ao produto. Vender é tão importante que as organizações se esquecem dos clientes já conquistados. Assim que vendem, o problema deixa de existir. E não estou falando das empresas locais de assistência técnica. Não há estrutura para suportar o cliente. Na verdade não há cliente. Parece haver apenas uma unidade de atenção especial ao potencial comprador.

Manter estoques regionais de peças que, diga-se de passagem não são perecíveis, é o mínimo que se pode esperar de uma empresa que vende em nível nacional para garantir a satisfação de seus clientes.

Quando vejo uma empresa que demora mais que três semanas para enviar uma peça que poderia ter chegado em dois dias pelo Correio mostra que no mercado não somos clientes somos apenas compradores.