segunda-feira, 10 de julho de 2017

A Única Certeza

Perdemos a capacidade de nos surpreender.

Faz apenas 10 anos que o iPhone foi lançado e mudou o mundo. Se pudessemos voltar no tempo e dizer para nós mesmos em 2001 (já em pleno século XXI) que em menos de dez anos teriamos um dispositivo pessoal no bolso, capaz de acessar toda a informação já produzida no mundo mas que o seu principal uso seria o de bisbilhotar a vida dos outros e ver fotos de gatinhos... Qual seria sua reação? Reflita um pouco. Pense e tente responder honestamente.

Menos de dez anos depois deste inusitado diálogo, Steve Jobs lançou o iPhone e, essencialmente, revolucionou a forma como nos relacionamos com a informação. De uma hora para outra, para o bem ou para o mal, passamos a ter acesso imediato a informações sobre coisas acontecendo do outro lado do mundo. A reação, antes mediada pelos jornais, televisão e rádio (e logo em seguida pelos portais de notícia) passou a ser instantânea. Graças às redes sociais, hoje somos capazes de nos mobilizar em uma velocidade impensável para as antigas gerações.

Independente dos gatinhos, nossa relação com a informação mudou. Não aceitamos mais a informação mediada. Desconfiamos dos meios de comunicação. Nos isolamos em bolhas de informação onde ouvimos o que queremos ouvir, aquilo que se adequa à nossa visão de mundo. Dez anos depois do iPhone, nos interconectamos de tal forma que passamos a poder escolher com quem conversar em qualquer lugar do mundo. E ao invés de tentarmos abrir nossos horizontes, insistimos em conversar com nós mesmos. Chegamos ao tempo da informação instantânea sem ter aprendido a ouvir.

O resultado dessa mudança é visível não apenas nas nossa relações interpessoais. Ao longo do tempo vimos o mesmo acontecer com empresas. Fusões e aquisições aumentaram a concentração de visões de mundo. Empresa A competindo com empresa B não apenas com a qualidade de seus produtos ou serviços mas, principalmente, pela sua capacidade de reagir às demandas do mercado. Investindo cada uma em tecnologia para se diferenciar pela capacidade de reação e não pelos produtos. Cada salto tecnológico de uma seguido por uma fase de recuperação e salto da outra em um jogo de pula-carniça comercial. Até o momento em que as tecnologias se equipararam e deixaram de ser vantagem competitiva, abrindo as portas para um universo de serviços padrão que hoje hospedamos na nuvem para consumo de qualquer um que necessite.

A busca acelerada de ferramentas de Inteligência Artificial e Machine Learning são a nova face dessa corrida pela diferenciação e as empresas do setor financeiro foram as primeiras a perceber as vantagens competitivas dessas novas tecnologias. Os grandes negócios em bolsa de valores não são mais feitos por pessoas, são executados por algorítmos que tomam, em frações de segundo, decisões que provocariam, certamente, úlceras estomacais em muitos analistas de mercado.

As empresas já viram que algorítmos e mecanismos de inteligência são necessários para se diferenciarem no mercado. O lucro depende, agora, da velocidade da tomada de decisão associada à capacidade de influenciar a demanda. A inteligência artificial não apenas analisa, ela, agora, influencia e cria a demanda.

Faça uma experiência: Entre no Google e faça uma pesquisa por algum artigo que potencialmente tenha algum interesse em comprar um dia. Chegue até uma loja virtual e confira o preço. Depois disso veja o que muda na sua linha do tempo do Facebook. Muito provavelmente você descobrirá que diversos amigos seus “curtiram” páginas relacionadas ao produto que você acabou de pesquisar. Anúncios direcionados surgirão “do nada” na sua timeline. Isso sem falar que de uma hora para outra, anúncios desse produto começarão a aparecer até nos jornais online que você costuma ler.

As empresas não tem mais tempo a perder. Quanto mais rápido chegarem até você, maiores serão as chances que você compre, que você consuma, que você gaste. Não é a toa que a disciplina de “Dados como Serviço” cresce da forma como está. Empresas fornecem “perfis” de consumo pré-catalogados e disponíveis para nos encaixar.

Quantas vezes você não leu um texto assim: “Pessoas como você também compraram...” E não é que o produto anunciado era mesmo interessante? Por um momento você fraqueja. Chega a clicar no link para dar uma olhadinha e quase sai aquela compra por impulso. Para o vendedor, não foi dessa vez. Da próxima, no entanto...

Os mecanismos de inteligência artificial aceleraram o reconhecimento de padrões a tal velocidade que conceitos como “next best offer” deixaram de ser apenas chavões na cabeça dos executivos de marketing. São parte da preocupação de toda a corporação; definem como as estruturas de dados devem ser criadas para que os algorítmos determinem, em tempo real, qual a próxima oferta que veremos no Facebook ou naquele portal de fofocas que tanto gostamos.

Não sabiamos onde chegariamos quando o iPhone foi lançado, dez anos atrás. Para onde esta nova onda de inteligência artifical nos levará? A única certeza que tenho é que tudo vai mudar.

De novo.