– O que foi?
– Ninguém consegue trabalhar depois que atualizamos as máquinas!
– Como é que é?
– Ninguém consegue...
– Isso eu ouvi! Mas como assim ninguém consegue trabalhar?
– Estão todos reclamando! Tem gente dizendo que não recebeu treinamento, que não foram avisados da atualização...
– Mas isso é o fim do mundo!
– Já avisaram que não vai dar para soltar o relatório do semestre no dia...
– Mas nem o relatório? Quem autorizou a atualização?
– Foi o senhor...
– Eu? Mas quando?
– Foi depois que o pessoal da área técnica disse que teríamos que fazer a atualização.
– Volta!
– Como é que é?
– Volta tudo! Tira as Remingtons do almoxarifado e devolve as Olivetti!
Bons tempos em que aprendiamos a datilografar. Quando mudávamos de emprego ou a empresa comprava novas máquinas, ninguém reclamava. Remington, Olivetti, IBM... todas conviviam no mesmo ambiente de trabalho sem que nenhum usuário de uma máquina reclamasse que não conseguia ler o que outro escrevia em outra máquina.
Aprendiamos a datilografar.
Hoje aprendemos Word. Aprendemos WordPerfect. Aprendemos WordStar. Hoje não aprendemos mais a escrever. Durante um certo tempo existiam cursos de digitação que rapidamente cairam no esquecimento pois com o computador em casa, qualquer um sabe como digitar. Ou sabe?
Em projetos de migração que participei, a reclamação mais frequente era: “Isso eu não sei usar!” Será? Será que uma pessoa inteligente, com capacidade de aprender não consegue olhar para um teclado, uma folha em branco e saber como escrever?
Caimos no golpe da solução pronta. Emburrecemos. Acreditamos na história que datilografia é coisa do passado. Compramos a idéia que precisamos aprender a usar os produtos que nos são empurrados convenientemente quando compramos um novo computador. Ficamos viciados em formatos de arquivos que obrigam a todos com quem nos relacionamos a comprarem os mesmos programas que usamos.
Fico pensando: Como posso obrigar meu pai, aposentado, a gastar R$ 800,00 numa cópia do Office para ler os textos que escrevo? Faço uma cópia pirata?
Quando vejo um edital de concurso público em que se exige conhecimento de Word, imagino a quantidade de candidatos que correm aos camelôs para comprar cópias “alternativas” ou aos amigos para copiá-lo pois mal tem dinheiro para pagar a taxa de inscrição do concurso.
Precisamos reaprender a datilografar.