sábado, 18 de fevereiro de 2023

Tristeza de Carnaval

Não sou exatamente um fã de Carnaval. A última vez que fui a um “baile”, passei a noite jogando truco com três amigos em um clube de caça e pesca no interior de Goiás que promovia a – como dizer – festança. O salão não estava vazio pois havia garçons trabalhando. Na verdade, mais garçons que foliões.

Sou tão desligado de Carnaval que "tudo que eu sei sobre o desfile das escolas de samba, aprendi contra minha vontade.” Durante praticamente uma semana inteira, não acontece mais nada no Brasil que seja mais importante que os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro (e agora de São Paulo), dos trios elétricos de Salvador ou dos blocos do Recife.

É só depois dessa explosão catártica que o ano começa de verdade.

Durante anos, achei que isso tudo era uma perda de tempo. Um gasto desnecessário além de um incômodo enorme para os moradores de bairros e ruas tranquilas que se viam invadidos pelos blocos e os mijões que sempre vem junto. Sei de pessoas que viajam no Carnaval, não para cair na folia, mas para garantir que terão um lugar tranquilo onde dormir pois as ruas onde moram se tornam intransitáveis e inabitáveis durante a folia de Momo.

Apesar disso tudo, o tempo se encarrega de fazer seus ajustes.

Esse ano, depois de praticamente três anos de reclusão pandêmica, alguma coisa mudou. Essa catarse, essa necessidade de ir para a rua, de exorcizar o vírus do coração abriram uma fresta de uma janela esquecida trancada há tempos. Continuo sem ter a menor vontade de ir a um Sambódromo ou de sair pulando atrás de um Trio ou Bloco mas alguma coisa me fez entender o que é o Carnaval para o Brasil. Mais que entender, sentir.

Jobim já havia cantado a felicidade como algo fugaz. Um lampejo pelo qual se espera um ano inteiro e que se apaga na manhã de Quarta-feira de Cinzas. Esse instante de felicidade, de alegria plena que dura apenas um final de semana, é algo pelo qual vale a pena esperar. Precisei de uma abstinência social de dois anos para aprender a intuir um pouco da emoção de um Mestre-sala chegando ao final da pista com lágrimas nos olhos ao mirar o sorriso, enorme e exultante, da Porta-bandeira. Dois corações sangrando de emoção ao final de um ano inteiro de suor e lágrimas prontos para começar tudo de novo para o ano seguinte.

Um ano inteiro de uma gestação longa, arrastada, por vezes tediosa e triste que explode em um único momento de alegria embalado pelo samba. Pois, como já disse Caetano:

O samba é pai do prazer 
O samba é filho da dor 
O grande poder transformador