quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Por Que Blogs?

Porque estamos em um momento histórico único.

Pela primeira vez a campanha de uma eleição presidencial em um país desenvolvido se desenrolou na Internet. Pela primeira vez qualquer um com acesso à rede tem acesso instantâneo a informações sobre o que acontece em praticamente qualquer lugar do mundo. Pela primeira vez pudemos acompanhar uma guerra ao vivo. Pela primeira vez uma crise financeira virtual atingiu em cheio a economia real.

Pela primeira vez temos acesso à informação crua e sem filtros.

Chegamos a um ponto em que, parafraseando o Dimenstein, se você sabe de algo pelos jornais, é porque não lhe interessa.

Mas parece que temos um problema com o acesso a este volume de informações. Apesar de termos acesso a todos os dados, não sabemos exatamente o quê está acontecendo no mundo. E muito menos o por quê.

Daí a necessidade dos blogs.

Diferente dos jornais, blogs não têm um compromisso, mesmo que parcial, com a imparcialidade. Blogs externam a opinião do autor sobre um determinado tema ou evento. Podemos acompanhar uma guerra pelos jornais, mas se formos aos blogs dos lados envolvidos, veremos que há muito mais por trás da notícia. Com opiniões, mesmo que divergentes, passamos a ter um enquadramento, um contexto onde a notícia passa a fazer sentido.

A quantidade de blogs em existência (incluindo este meu) é um reflexo da quantidade de pessoas dispostas a ajudar a enquadrar a informação. Chegamos a 50 milhões de blogs em 2006. Em 2007 nascia um blog a cada segundo, número que chegou a 2 por segundo em 2008.

Segundo a Technorati, desde que começou a coletar estatísticas sobre blogs, já passamos de 133 milhões. E este número continua a crescer.

Há blog para todos os gostos. De brincadeira, gozação, opinião, tecnologia.... enfim, para cada faceta da atividade humana, parece haver um blog.

Acho que o motivo é simples. Gostamos de saber o que os outros acham sobre determinado assunto. E gostamos de ou concordar ou discutir. Especialmente discutir. Não lembro de nada melhor para criar uma sensação de participação em uma comunidade que discutir política na frente da banca de jornal do Café Nice em Belo Horizonte. A mesma coisa acontece agora. O blogueiro tem uma opinião sobre um acontecimento e a posta no seu blog. Imediatamente diversas pessoas passam a discutir aquele tema, expandindo e estendendo a compreensão de todos os envolvidos sobre o ocorrido.

Seja sobre o boato de um novo lançamento, uma fofoca sobre uma celebridade, política, politicagem, ou qualquer outro tema, os blogs são as novas bancas na frente do Nice: um local onde nos reunimos para discutir, ou simplesmente ouvir o que outros acham.

Feliz ano novo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Uma ideia simples

Às vezes alguém tem uma ideia simples que pode provocar mudanças muito interessantes. Até hoje, sempre tentei evitar imprimir desnecessariamente, pensado apenas na economia de papel. No entanto, quando imprimimos alguma coisa, o papel é apenas uma parte do resultado. Consumimos tinta, toner, plástico (para os cartuchos) e mais uma quantidade impressionante de materiais tóxicos (como o cádmio usado nos cartuchos de impressão).

Isso sem falar que cartuchos de marca são caros e os genéricos não duram muito...

Economizar tinta e toner sempre foi difícil para mim que escrevo muitos textos e não imprimo fotos ou coisas do gênero. Sempre pensei que apenas reduzindo a resolução e a quantidade de páginas impressas, já estaria fazendo possível.

Isso até agora, quando uma empresa holandesa de criação e design foi mais criativa que o normal e lançou uma fonte TrueType modificada para consumir até 20% a menos de tinta ou toner. A fonte Spranq Eco Sans (http://www.ecofont.eu) é furada, como alguns queijos, mas é perfeitamente legível quando impressa ou mesmo quando usada em tamanhos normais.

Ainda falta avaliar o impacto do uso desta fonte no final do mês mas, se tudo der certo, a HP vai amargar uma perda de até 20% no faturamento de toner da minha impressora...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Adotar, estender, extinguir

Para quem não se lembra, o título deste post vem da estratégia que a Microsoft vem usando faz muito tempo. Originalmente, a expressão era "embrace, extend, then innovate" e foi cunhada por J Allard em 1994 em um memorando interno da empresa. A parte que interessa é a seguinte:

"De forma a construir o respeito necessário e ganhar as mentes da comunidade Internet, recomendo uma receita que não é diferente da que usamos com os nossos esforços com o TCP/IP: adotar, estender e então inovar. Fase 1 (Adotar): todos os participantes precisam estabelecer um entendimento sólido da infra-estrutura e da comunidade - determinar as necessidades e tendências da base de usuários. Só então podemos habilitar os produtos de sistemas Microsoft a serem grandes sistemas Internet. Fase 2 (Estender): estabelecer relacionamentos com organizações e corporações apropriadas com objetivos semelhantes aos nossos. Oferecer ferramentas e serviços integrados compatíveis com padrões estabelecidos e populares que tenham sido desenvolvidos na comunidade Internet. Fase 3 (Inovar): mover-nos para um papel de liderança com novos padrões Internet quando apropriado, habilitar títulos de prateleira com capacidades Internet. Mudar as regras: o Windows se torna a ferramenta Internet de nova-geração do futuro."[1]
Já em 1995, segundo a ação antitruste movida contra a empresa, a expressão tornou-se "embrace, extend and extinguish". Esta idéia passou a nortear muitas das estratégias da empresa com exemplos como o próprio Internet Explorer que incorporou muitas "inovações" que só ele suportava, o Active Directory, baseado nos mecanismos de autenticação do Kerberos e os serviços de diretório do LDAP que mudaram tanto que não é mais compatível com nenhum deles sem muito trabalho. Isso sem falar das adaptações à JVM que, na prática, criaram por algum tempo uma JVM Microsoft que ninguém, a não ser ela, podia implementar.

Mas o que isso tem a ver com o ODF? Recentemente a Microsoft anunciou que o seu produto Office terá suporte nativo ao ODF já em 2009. Esta notícia foi acompanhada pela outra que a empresa irá participar do grupo do Consórcio OASIS que mantém o ODF. Esta notícia foi saudada por muitos como uma grande novidade, como sendo a capitulação da Microsoft, e outras expressões mais ou menos entusiasmadas.

Pessoalmente, acho preocupante a atitude da Microsoft. Depois de gastar muito dinheiro, esforço e imagem na farsa que foi a aprovação do MOOXML na ISO, ela simplesmente desiste de implementar o formato alegando que não há produtos que o suportem no mercado? E quanto ao próprio Office? Ah, me esqueci que a Microsoft já havia avisado ao mundo que não poderia se comprometer com o "padrão" aprovado.

Mas mesmo assim, será que a empresa acha que o MOOXML, por não ter produtos que o implementem, não merece ser implementado nem pela própria empresa que o criou? Não faz sentido.

Espero estar errado mas isso tudo me parece mais um ciclo da estratégia de adotar, estender e extinguir. Não ficarei nada surpreso quando o Office começar a implementar extensões que só ele é capaz de usar. A princípio, virão como pedidos de funcionalidades ou demandas dos seus usuários. Uma vez estabelecidos, no entanto, serão rapidamente transformados em "padrões de fato", deixando-nos novamente a ver navios, completamente dependentes e presos.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Crise da meia idade


Fugindo um pouco do tema deste blog, estou postando aí ao lado a minha crise de meia idade. É um jeep Kaiser Willys M-606 de 1964. Mesmo ano em que nasci.

Devagar vou restaurar o que for possível e ir publicando os resultados aqui.

É um carro com história bastante interessante.

O M-606 é a versão militarizada do CJ3B, um carro utilitário fabricado pela Kaiser no período de 1964 a 1967. O "Cara de Cavalo", como ficou conhecido no Brasil, foi rejeitado pelo mercado norte-americano por ser considerado feio. Vá lá... gosto não se discute. O que me atraiu neste modelo específico é justamente a ausência de frivolidades. É um carro onde a função ditou a forma e não o contrário, como ocorre hoje com a grande maioria dos carros 4x4 disponíveis no mercado.

Até onde pude apurar, sou o terceiro dono deste carro que foi comprado por um civil em um leilão do exército.

Agora é botar a mão na graxa e ver o que consigo fazer com ele.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Apoio descartável

Começou a debandada. Os países que se associaram à ISO como membros "P" e que votaram a favor da aprovação incondicional do MOOXML começam a deixar a organização. Líbano, Turquia, Chipre e Trinidad e Tobago já deixaram a vetusta organização.

A lista de membros P pode ser vista na própria ISO.

Será que voltam a se associar quando precisarem deles de novo?

terça-feira, 22 de abril de 2008

Esperar o anunciado

Contra fatos não há argumentos, já diz a sabedoria coletiva. O que acho cômico são reações de surpresa a notícias como a que o Office 2007 falha em teste de conformidade com o OOXML. Será que alguém realmente se surpreendeu com isso? Não bastaram os avisos e declarações de pessoas como o Don Mahoug sobre o tamanho do mercado que a Microsoft estava defendendo? Pelo jeito não foi suficiente sermos alertados pelo Brian Jones para o fato que
"é dificil para a Microsoft se comprometer com que for produzido pela Ecma nos anos que virão, porque não sabemos qual a direção que os formatos tomarão. É claro que nos manteremos ativos e proporemos mudanças baseadas no que queremos para o Office 14."
A única novidade foi no tempo. Não foi no Office 14. Foi agora, com o próprio Office 2007, aquele produto que deveria ser a implementação de referência do OOXML. Incompetência, falta de coordenação entre as ações da empresa ou simplesmente descaso com o formato "aprovado" pela ISO, o fato (contra o qual não há argumentos) é que a empresa que gastou tanto dinheiro, esforço e imagem na defesa de um "padrão" não o implementa corretamente no próprio produto que deveria ser a referência.

E o que acontece agora? O padrão foi aprovado, o produto de referência existe mas não atende. E agora?

Agora, é esperar, nas palavras do próprio Alex Brown:
"Given Microsoft's proven ability to tinker with the Office XML file format between service packs, I am hoping that MS Office will shortly be brought into line with the 29500 specification, and will stay that way. Indeed, a strong motivation for approving 29500 as an ISO/IEC standard was to discourage Microsoft from this kind of file format rug-pulling stunt in future."
Ou seja, só resta a esperança, vaga e vazia, que a Microsoft resolva aderir ao OOXML.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

FIQ

Todo mundo tem uma FAQ, aquela lista de perguntas freqüentes (Frequently Asked Questions na antiga língua bretã). A ISO apresentou a sua para o processo de aprovação do OOXML que me lembra um outro tipo de lista, a de perguntas frequentemente ignoradas (Fequently Ignored Questions).

Montar uma FAQ é fácil quando não é necessário publicar a lista das perguntas recebidas sobre um determinado tema. Quem publica a lista decide quais as perguntas mais freqüentes e as responde da forma que achar mais conveniente.

Em listas técnicas ou fóruns de suporte, a FAQ geralmente representa as dificuldades mais freqüentes encontradas pelos usuários desta ou daquela solução. Mas como deve ser a lista de perguntas feitas à ISO com relação à aprovação do OOXML? Acho que nunca saberemos realmente tudo o que foi perguntado. Mas uma lida rápida na FAQ da ISO revela algumas pérolas que podem esclarecer como o processo funciona.

A primeira resposta explica como realmente funciona o processo de Fast Track. A ISO não decide, quem decide são os membros P da ISO e as organizações "A" como a ECMA. Ou seja, se você tem uma especificação e maioria em uma organização como a ECMA, ela pode ser apresentada pelo processo de Fast Track. A ISO considera que os membros P e as organizações com este direito já devem ter feito o dever de casa antes de pedir o início do processo.

Outra resposta interessante reflete a posição da ISO sobre padrões sobrepostos. Essa eu tenho que citar diretamente:

The ICT industry has a long history of developing multiple standards providing similar functionalities. After a period of co-existence, it is basically the market that decides which survives.

Ou seja, a ISO apenas chancela os padrões, o mercado que se vire.