quarta-feira, 7 de abril de 2004

Por um Novo Modelo

Há um erro de estratégia no mundo Linux. Devido à visão radical de certos grupos que originaram os movimentos do Software Livre e do Código Aberto, a idéia de substituição de sistemas proprietários por sistemas abertos é uma constante. Parece haver um consenso entre defensores do software livre da mídia e da indústria, que o único caminho é o da substituição radical.

Esta posição de confronto entre os defensores do software proprietário e os do software aberto está de tal modo arraigada no pensamento da indústria de TI que gera relatórios como o do Yankee Group, nesta semana, onde, para a surpresa de todos, se chega à conclusão que os custos de migração de um ambiente Windows para o Linux inviabilizam a solução.

A reação dos radicais do “mundo livre” chegou ao ponto de serem enviados e-mails com ameaças aos autores do relatório. Em outra consultoria, a Forrester Group, um dos consultores pediu demissão, segundo nota publicada na Slashdot Estas posições apenas reforçam o confronto entre os dois grupos.

Mas a quem interessa o confronto?

Sem saber, a comunidade defensora do software aberto está fazendo o jogo do inimigo. Este confronto não é considerado sério pelos setores técnicos das empresas mas tem um peso considerável nas decisões tomadas por suas diretorias. São os diretores, especialmente aqueles que tem que prestar contas aos seus acionistas, que tomam a decisão de migrar ou manter os seus ambientes de TI. E para eles, só está sendo mostrado um mundo em preto e branco: ou se mantém todo o parque baseado em software proprietário ou se migra todo o parque para software aberto. Não há meio termo.

Ao caracterizar a comunidade do software aberto como sendo a de um bando de revolucionários que quer acabar com a economia como nós a conhecemos, os defensores do software proprietário ganham pontos junto aos tomadores de decisão. Em contrapartida à incerteza do desenvolvimento continuado, oferece-se a estabilidade contratual; aos elevados custos de uma migração total, o preço convidativo da migração para novas versões dos mesmos produtos em utilização. Independente de sua capacidade técnica, Linus Torvalds ainda é visto como um “geek”. Richard Stallman e John “maddog” Hall também não contribuem muito com o visual de um movimento sério, capaz de revolucionar a indústria como nós a conhecemos.

A indústria de software, por outro lado, sabe quem paga a conta. Sua imagem de “seriedade” é cuidadosamente estudada e exposta a um público altamente selecionado: aquele que decide a compra.

Há diversos fatores que devem ser considerados para o sucesso do software aberto: fatores financeiros, como a criação de formas constantes de custeio; fatores técnicos, como a correção de falhas em tempo hábil; e até fatores jurídicos, como a exigência de garantias por parte dos usuários. São todos fatores de extrema importância. Mas há um fator que não vem recebendo a consideração devida: o fator imagem.

É preciso jogar fora a casca de radicalismo que vem cobrindo o software aberto. É preciso evitar o confronto inútil gerado pela insistência em sempre se fazer uma substituição total. É preciso gerar um modelo de migração.

Sem um modelo de migração não há como se falar em substituição. O discurso radical somente atende aos interesses do outro lado. É preciso gerar um modelo que permita um futuro possível e não um futuro utópico, ideal e, inatingível. Receio apenas que quando a comunidade do software aberto chegar a este modelo, talvez já seja tarde demais.