sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Confusões com Padrões

Alguma coisa acontece quando se começa a discutir padrões de documentos: Imediatamente começamos a discutir software.

Acredito que isso vem do fato que passamos tanto tempo presos a um modelo que vincula o software ao arquivo de saída que não sabemos mais distinguir um do outro. E, acreditem, esta confusão pega muita gente séria que se propõe a discutir o tema. Quando acontece da discussão envolver Software Livre e fechado, então, parece que o tema da liberdade de escolha do padrão de documentos se perde e deixa de ser relevante.

Não joguem pedras pelo que vou falar, mas quando o tema é padrão de documentos, o que menos interessa é o software.

Assim como tenho a liberdade de escolher a escola dos meus filhos, meu carro e o bairro onde quero morar, a escolha da ferramenta que uso para meus documentos é minha (a não ser no caso da empresa onde trabalho forçar o uso de uma ferramenta específica). Se existe um padrão, não preciso perguntar a ninguém se possui ou não o software tal ou qual para poder ler os documentos que eu redijo. Existindo um padrão, qualquer software que o suporte pode ser usado sem prejuízo de forma ou conteúdo. É por isso mesmo que este texto pode ser lido usando-se o Firefox, Opera, Safari, Chrome, e até mesmo pelo Lynx e pelo Internet Explorer.
Infelizmente, os softwares permitem, e o padrão não rejeita, que recursos de software ou de ambiente sejam incluídos nos arquivos de documentos. Recursos como animações, objetos embutidos e, principalmente, macros, geram problemas sérios de interoperabilidade que não são ligados ao formato de documento. É neste ponto que a confusão entre software e formato se dá com mais força, tornando difícil desfazê-la. Ainda mais quando a confusão interessa muito a certos fornecedores de software do mercado.

Hoje posso criar automações no BrOffice.org usando o OORexx. Para mim, é a combinação ideal pois conheço a linguagem Rexx e conheço o BrOffice.org. O problema acontece quando eu decidir distribuir alguma planilha ou documento em ODF que contenha algum código Rexx embutido. O resultado é previsível: ninguém vai conseguir executar o meu código, e por tabela também não conseguirão obter a funcionalidade desejada, por não terem um interpretador Rexx nas suas máquinas.

Tanto o BrOffice.org quanto o OORexx são softwares abertos e livremente disponíveis, mas não creio que a maioria dos usuários esteja preocupada com a instalação deste ou daquele componente para poder ler um simples documento de texto ou planilha.

O mesmo ocorre quando recebemos planilhas Excel com macros em VBA. VBA é uma implementação proprietária e fechada da Microsoft para a automação de seus produtos de Office. Não é de estranhar que macros escritas em VBA para uma determinada versão de Excel não sejam suportadas em outros produtos (inclusive em outras versões de Excel), tendo que ser convertidas em LotusScript ou em OOoBasic ou qualquer outra linguagem que o software de destino seja capaz de interpretar.

O mesmo ocorre quando alguém resolve embutir um vídeo WMV em uma apresentação para distribuir. WMV é um formato proprietário e fechado da Microsoft para vídeo que depende de um software específico para ser visualizado. Este software é o Windows Media Player, que, por acaso, vem embutido no Windows mas não existe para outras plataformas. Não deveria ser surpresa para ninguém que o vídeo não será exibido. Mas surpreendentemente, apenas alguns poucos conseguem entender o problema.

Não há uma solução fácil para o problema. Hoje, é preciso muito de bom senso e ética para saber o que colocar ou não em um documento. Uma opção seria definir padrões para tudo. É uma boa idéia mas que não atende à dinâmica do mercado e da inovação.

A melhor saída é usar formatos abertos para o que for possível. Formatos de multimídia como Ogg-Vorbis, de desenho como SVG, ou mesmo de imagens como PNG são excelentes formas de garantir a portabilidade do seu documento. Os componentes podem até não estarem instalados mas todos estão disponíveis sem custo na rede. Concordo que não é a melhor solução mas, como dizia a piada, para o momento, dá.

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