quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Próximo Passo

Para aqueles que ainda acreditam em Papai Noel só porque o Coelhinho da Páscoa contou...

Com a santificação do MOOXML pela ISO, começam a aparecer os consultores "independentes" preocupados com questões "mais importantes" começam a dar sinais dos próximos passos na novela do MOOXML.

Agora é o sr. Jan van den Beld, coincidentemente ex secretário geral da ECMA, que não só defende o processo de fast track como realizado como aconselha governos nacionais a não definirem um padrão para documentos pois isso poderia ferir regras da Organização Mundial do Comércio e expor estes países a ações legais.

As declarações deste consultor podem ser lidas em http://www.lowyat.net/v2/latest/the-openxml-standardisation-update.html

Mas o que isso quer dizer? Porque usar consultores para mandar recados?

Por que agora que o MOOXML é um padrão ISO e a Organização Mundial do Comércio possui políticas que impedem o uso de padrões como barreiras não tarifárias ao livre comércio.

Isso é mais um indicador que uma certa companhia não irá trabalhar para suportar o ODF em seus produtos, por mais que seus clientes peçam. Não é mais necessário. Depois de subverter o processo da ISO, o próximo passo é cooptar a OMC e alguns governos para fazer o seu trabalho sujo...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Parabéns

Acho que é só o que tenho a dizer: parabéns.

Parabéns a todos que ajudaram a seqüestrar o processo da ISO. Parabéns por mostrar como é possível manipular e dirigir um processo através da mão pesada do poder econômico. Parabéns por terem reconhecido que os interesses de uma empresa se sobrepõe aos direitos dos indivíduos de seus países. Parabéns por se dobrarem. Parabéns por assumirem abertamente a defesa de interesses que não são os dos seus países. Parabéns.

Parabéns também àqueles que mantiveram a sua integridade. Parabéns por terem tido a coragem e a retidão de manterem-se aliados a seus princípios. Parabéns pelo trabalho duro de ler e analisar milhares de páginas de documentos destinados a ofuscar a verdade, encontrando e apontando problemas que foram simplesmente ignorados pela maioria dos interessados.

Só não posso dar os parabéns à própria ISO, a única a perder com a forma como tudo foi conduzido. Talvez ainda seja possível à organização recuperar um pouco de dignidade. Mas isso vai levar muito tempo.

2 de abril de 2008 é uma data que vai para a história da ISO. Pena que por motivos não muito nobres.

quinta-feira, 20 de março de 2008

A Mulher de Cesar

A mulher de César deve estar acima de suspeitas
(Gaius Julius Caesar)


É triste ver como uma organização como a ISO se prestou a ser palco de uma das tentativas de cooptação de processos mais deslavada da qual tenho notícia. Digo tentativa pois o voto final não foi dado e ainda é possível à ISO e aos órgãos nacionais que participam do JTC1 fazer a coisa certa. Mas a cada nova notícia que leio, minha esperança na lisura do processo diminui.

Depois de aceitar em "fast track" uma especificação de mais de seis mil páginas, gerada às pressas por uma empresa interessada apenas em preservar um mercado cativo de mais de 10 bilhões de Dólares por ano, onde foram apontados mais de 3.500 defeitos, a vetusta organização produz uma farsa onde, sob estrita omertà, e sem resolver nada, dá prosseguimento ao processo de transformação do MOOXML em um padrão ISO.

O capítulo mais recente dese teatro do absurdo apareceu hoje no Groklaw, avisando da mudança do procedimento para alteração de voto. Como em todas as ações da ISO até agora, o procedimento publicado dá margem a interpretações e pode, inclusive, dar margem para desconsiderar alterações de votos. Não se surpreendam se organizações nacionais que alterarem seus votos para "não", tenham alguma dificuldade em ter as suas decisões validadas pelo novo procedimento.

Seja qual for o resultado, não haverá vencedores. Mas já temos um perdedor. A partir do MOOXML, a ISO terá que se esforçar para justificar a sua razão de ser.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Essencial e Incidental

Temos todos uma mania crônica: tratar o incidental como se fosse o essencial. Quando temos febre, tomamos um antitérmico sem nos preocuparmos com o que a está causando. Nos preocupamos com o saldo da nossa conta corrente sem pensar nos gastos que nos levam ao cheque especial. Reclamamos do consumo do carro sem pensar nos nossos próprios vícios ao volante.

Ao confundir o incidental, que não existe por conta própria, com o essencial de qualquer situação, deixamos de discutir o que realmente interessa. Gastamos horas discutindo sobre um conjunto de situações que podem ser resolvidas apenas com a correção da essência do problema. Passamos meses discutindo se o mosquito da dengue era municipal, estadual ou federal, sem mover uma palha para resolver a essência do problema: educação e saneamento. Agora temos a febre amarela batendo à nossa porta e, com ela, novas discussões intermináveis sobre o incidental. A essência do problema continua: continuamos com deficiências graves em educação e saneamento.

A publicidade gerada pela “guerra dos padrões” na ISO é só mais um reflexo desta nossa mania. Páginas e páginas foram gastas tratando da guerra entre o Office e o OpenOffice.org, entre IBM, Sun e Google, de um lado, e Microsoft, do outro. Essa mania de discutir o incidental transformou uma discussão sobre padrões, sobre modelos estabelecidos e abertos para a troca de informações, em uma batalha por um mercado que rende US$ 11.000.000.000,00 (isso mesmo onze bilhões de dólares) por ano à Microsoft.

É preciso discutir o essencial. Precisamos de um modelo aberto e público para a troca de informações, fora do controle de uma companhia específica. Até porque companhias são incidentais neste processo. Microsoft, WordPerfect, WordStar, Carta Certa e tantas outras foram meros incidentes na essência do problema: a falta de um padrão público e aberto para a troca de informações.

Discutir o incidental neste momento apenas torna o problema, em sua essência, cada vez mais grave e de difícil resolução. A geração de documentos eletrônicos não para. A cada dia mais e mais documentos públicos são gerados em formatos fechados tornando a organização e recuperação de informações um sonho cada vez mais distante.

A cada nova rodada de discussões evita-se o essencial. Publica-se o incidental como se fosse verdade absoluta. Patina-se na resolução do problema.

É preciso parar de discutir a febre e sanear as comunidades.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Cultura: Preservação e renascimento

Gálico é uma daquelas línguas sobre as quais só sabemos notícias quando vemos algumas placas de trânsito no norte da Escócia. Segundo a Wikipedia, a língua é falada pelos nativos do norte das ilhas britânicas há mais de 1.500 anos. O seu uso, no entanto, começou a declinar ao longo do tempo chegando a ser proibida em 1616 quando um ato do parlamento afirmava que o Gálico deveria ser abolido e removido da Escócia. Com a inclusão da Escócia como parte do Reino Unido em 1707 e a revolta de 1745, a língua foi praticamente banida, inclusive com a persiguição e exílio das populações vindas das regiões onde o Gálico era predominante. O Gálico passou a ser falado apenas nos pontos mais afastados, onde a autoridade instituida não chegava, tornando-se praticamente um dialeto, uma curiosidade local.

Corte rápido de 260 anos.

Em 2005 o Parlamento Escocês aprovou uma lei, o Gaelic Language Act, que reinstituiu o Gálico como língua oficial da Escócia e estabeleceu um plano nacional para o ensino da língua. Em paralelo, surgiu o projeto Gálico do OpenOffice.org.

Com pouco mais de 50.000 falantes em 2005, o Gálico não era (e ainda não é) considerado um mercado atrativo para o desenvolvimento tradicional de software. Qual a empresa que, devendo explicações aos seus acionistas, "gasta" milhares ou talvez milhões de dólares no desenvolvimento de um conjunto de aplicativos para "apenas" 50.000 pessoas?

Com o apoio do LT Scotland, um órgão governamental destinado a prover recursos tecnológicos para escolas, o projeto realizou a localização do OpenOffice.org para Gálico, tornando-se o software de escolha para escolas, serviços públicos e a população em geral.

Como o OpenOffice.org foi o primeiro software desenvolvido em Gálico, o próprio projeto resultou em uma evolução acelerada da língua. Depois de 260 anos, novos termos tiveram que ser cunhados para o uso no novo ambiente.

Com ferramentas e um renovado interesse na língua, novos projetos surgiram. E não apenas em software. Em 2006, Chris Young, um jovem cineasta escocês, lançou o filme "Seachd — The Inaccessible Pinnacle" totalmente rodado em Gálico. Um verdadeiro renascimento literário e musical surgiu no país chegando à criação de um canal exclusivo em Gálico pela BBC em 2008.

Apesar de pequena, a população que fala Gálico vem aumentando e um novo sentimento de orgulho nacional e cultural que passa até por detalhes que consideramos "menores" como a adoção de placas de trânsito bilíngues.

Neste renascimento do Gálico em tempos de sociedade da informação, não teria sido possível sem o uso de ferramentas que permitissem aos falantes usar a tecnologia em sua própria língua.

Apesar de pequeno em números, o projeto Gálico do OpenOffice.org demonstrou, de forma clara e irrefutável, como o Software Livre pode contribuir para a preservação da cultura.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Agora são as Macros (VBAway) - Atualizado

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Depois da celeuma, uma postagem no Blog dos desenvolvedores do Excel informa que ao contrário do que foi anunciado, não há planos para retirar o suporte VBA do Excel para Windows.

Pelo jeito foi apenas mais um "engano".
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Depois de bloquear (por engano) formatos de arquivos antigos e de terceiros que considera "inseguros", a Microsoft mostra mais uma vez como é perigoso confiar a uma única empresa o controle sobre os seus documentos eletrônicos.

Agora são as macros VBA que já foram devidamente desabilitadas no Office 2008 para o Mac e que estão com os dias contados pois não deve mais existir suporte a VBA no Office 2009.

O resultado imediato será sentido por todos os usuários de Mac que tiverem optado por atualizar o pacote do Office: qualquer documento ou planilha que use o VBA para automatizar qualquer coisa, não funcionará. É simples assim. Lembra daquela planilha Excel que o RH demorou anos para aprimorar? Não funciona no Office 2008 para o Mac e não funcionará mais no Office 2009. Todas as macros terão que ser reescritas, todas as funcionalidades refeitas.

Todo o trabalho jogado fora.

O risco de se atribuir a uma única empresa o controle sobre o formato dos arquivos de armazenamento de documentos fica cada vez mais claro quando vemos como a Microsoft se preocupa com o "legado" de documentos existentes. Aliás, fica cada vez mais interessante observar a imensa distância entre intenção e gesto desta empresa.

Enquanto, por um lado, a Microsoft defende o OOXML como sendo o santo graal da interoperabilidade, um formato de armazenamento que defende e garante a sobrevivência do grande volume de documentos nos diversos formatos .DOC, .XLS e .PPT existentes, por outro, se esmera em forçar os seus usuários a migrar para novas tecnologias e implementações que visam justamente acabar com este legado que ela diz querer proteger.

A diversão não acaba...

Ao impedir que os usuários do Office para Mac executem macros, a Microsoft tenta atingir um outro objetivo, impedir o crescimento desta plataforma em ambientes corporativos. Com as macros VBA funcionando apenas em Windows, qual será a plataforma para a qual as empresas migrarão para manter seus documentos e planilhas funcionando? Com certeza não será o Mac.

Pessoalmente, não sinto falta das macros VBA. Muito pelo contrário, devido à insegurança da implementação, o VBA foi responsável pela explosão dos famigerados vírus de macros que se mostraram muito "populares" em um passado não muito distante. Mas muitos usuários se tornaram dependentes do VBA. Muitas pequenas empresas dependem de macros escritas em VBA para automatizar processos internos.

Para quem quiser continuar com o Office como plataforma, é bom preparar o bolso. De acordo com a Microsoft, além do Vista e do Office, também terá que ser usado o Visual Studio Tools for Applications ou o Visual Studio Tools for Office.

E isso tudo até a próxima mudança. Sempre em nome da "segurança" e do "melhor" para os usuários.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

De quem são os arquivos mesmo?

Uma nota publicada no Slashdot reforça o risco de depender de formatos fechados de arquivos para o armazenamento de documentos eletrônicos.

A Microsoft resolveu que determinados formatos de arquivos não são mais seguros e simplesmente os bloqueou dentro do Microsoft Office após a instalação do Service Pack 3 para o Office 2003. Além dos arquivos gerados por versões "antigas" do Word e do PowerPoint, uma série de arquivos como os gerados pelo Lotus 123 e arquivos de transferência de informações como .dif e .slk também foram bloqueados.

Tudo em nome da segurança.

O que esta ação da Microsoft mostra não é uma preocupação com a segurança de seus usuários mas antes, uma ação unilateral que força estes mesmos usuários a migrar para novos formatos de arquivos através da migração para novas versões do Office.

Muitos usuários do Office 2003 somente perceberão o problema quando precisarem abrir arquivos antigos que, por um motivo ou outro, deverão ser recuperados. Quando chegar este dia, estes usuários descobrirão, surpresos, que os seus arquivos não são seus. Descobrirão que aqueles documentos importantes cujos conteúdos são necessários para as suas atividades, não são considerados como "seguros" pela Microsoft e por isso não podem mais ser abertos.

Acredito que se havia alguma dúvida com relação à utilização de padrões abertos, esta dúvida foi derrubada pela própria Microsoft. Os arquivos .doc, .ppt, .pps e qualquer outro que não seja considerado "seguro" no seu disco não são seus. Você apenas aluga o arquivo para nele armazenar um documento.

O argumento de segurança também é falho. Um arquivo não é inseguro. Inseguro é o software que o trata. Se o Office 2003 é incapaz de tratar um arquivo antigo de forma segura, há um problema com o Office e não com o arquivo.

É interessante notar também que o principal argumento da Microsoft em defesa do Office Open XML é derrubado pelo lançamento deste Service Pack. Só para lembrar, segundo a Microsoft, o OOXML leva em consideração o imenso volume de arquivos em formato .doc mantidos por usuários no mundo inteiro. Estes arquivos devem ter sua representação garantida no novo formato. Porém, com o Service Pack 3, muitos deste arquivos que deveriam ter sua portabilidade garantida foram simplesmente bloqueados.

E agora? De quem são os arquivos mesmo?