Novamente começam a circular pseudoinformações
cujo único objetivo é o de confundir produtos com padrões. Em
busca da defesa de um mercado de bilhões (com B mesmo) de dólares,
certas empresas voltaram a atacar com um discurso que, para quem
acompanhou as discussões à época da padronização do ODF e do
OpenXML, beira o ridículo.
Falam de recursos de produtos como se fossem parte dos padrões de
representação de arquivos de documento como se estes recursos
fossem parte do próprio padrão. Falam de como um padrão é
superior a outro porque é melhor implementado em um produto
específico. Falam de como um padrão é superior porque implementa
melhores recursos de segurança e estruturas de representação.
De forma conveniente, deixam de fora da discussão o fato que padrões
de documentos foram criados para permitir desvincular o arquivo do
produto que o gerou. O fato deste ou daquele padrão ser suportado
por um ou outro produto não é o ponto relevante. Não é a fatia do
mercado que estabelece a superioridade de um padrão. No final das
contas, o objetivo de um padrão como o ODF não é ser “melhor”
que outro. O objetivo do ODF é garantir que documentos produzidos
hoje não sofram a sina do Carta Certa ou do Word para DOS. O
primeiro não conta mais com produto que o abra enquanto o segundo
precisa de um filtro adicional instalado na versão corrente de forma
opcional para fazê-lo.
Ao confundir recursos de produtos com o padrão de geração do
arquivo, cria-se um desvio na discussão que leva a conclusões
erradas: preciso desta função, logo não posso usar o ODF. Há aqui
uma inversão do raciocínio que parte da falsa premissa que um
padrão não evolui. Que um padrão, uma vez estabelecido, fica
engessado, condenando os seus usuários ao “atraso” e à perda de
acesso a “inovações”.
Nos próximos dias o ODF 1.2 deve ser aprovado na OASIS. Em seguida,
será enviado para a ISO para votação e, se tudo correr conforme o
processo normal da ISO, deve ser aceito como ISO 26300:2011. É
importante notar que não se trata de um novo padrão ISO mas de uma
revisão a um padrão existente. Assim como outros padrões
publicados pela ISO e mantidos por organismos de padronização
reconhecidos, o padrão ISO 26300 também evolui e será atualizado
em breve.
A fumaça lançada ao vento neste momento mostra que há empresas
preocupadas com o impacto que uma atualização ao ODF causará aos
seus mercados. O ODF evolui e incorpora necessidades de representação
de informações das quais as pessoas precisam. O discurso de
funcionalidade de produtos, baseado apenas no marketing e na presença
de mercado, se fragiliza com a demonstração clara que padrões
evoluem e são atualizados de acordo com necessidades reais.
Os sinais de fumaça já estão indicando que o processo na ISO para
a homologação do ODF 1.2 não será tranquilo.
2 comentários:
Oi Salomon!
Ótima contextualização. Tua observação sobre a aprovação do ODF 1.2 como uma revisão da ISO 26300 é muito importante. Ao que tudo indica, teremos uma ISO 26300:2011, escrita assim mesmo: com a composição do número identificador já existente e do ano da revisão.
A primeira vista, essa identificação parece não ser tão importante, mas será a garantia de que as legislações vigentes sobre a preferência ao ODF nas administrações públicas brasileiras continem valendo e acompanhando a evolução do padrão.
A razão disso é que tanto nas principais leis já aprovadas, como a paranaense e a fluminense, quando nas leis em proposição, como aqui no Rio Grande do Sul, o texto sempre faz referência à norma completa (ISO 26300) e não a uma revisão específica.
Enfim, as leis acompanharão a norma, incorporando também as novas revisões. É menos uma etapa a vencer para que o ODF continue avançado como queremos.
Abraço,
Gustavo Pacheco.
O ponto da atualização da norma é importante mesmo, Gustavo. No discurso anti ODF sempre se esquecem de lembrar que normatizar não é a mesma coisa que engessar. A evolução do padrão pode não atender às necessidades do marketing das empresas mas sempre atende às necessidades das pessoas.
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