terça-feira, 10 de setembro de 2013

De volta

Depois de longo e tenebroso silêncio o Notas Livres está de volta. E agora com seu próprio domínio!

Por sorte hoje vi que o domínio notaslivres.com.br estava disponível e em uma compra tipicamente de impulso, comprei e redirecionei o domínio para cá.

O Blog continua na estrutura do Blogspot mas agora com nome próprio.

E que venham as publicações!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Coopetição

Com o lançamento do OpenOffice 3.4 pela Fundação Apache, um verdadeiro balaio de gatos parece ter sido jogado no meio da sala. De uma hora para outra antigas desavenças se exacerbaram, levando a troca de alfinetadas existente a níveis dignos de finais de Telecatch (para quem ainda é muito novo, recomendo ler a entrada da Wikipedia sobre o tema e procurar as gravações no YouTube). De restrições a utilização de marcas a arroubos dignos do pior ufanismo, acho que, se não vi de tudo, não quero ver mais nada. Só tenho certeza de uma coisa, todos esses que estão se alinhando em cantos opostos do ringue parecem ter esquecido que há espaço para todos e para todos há lugar.

Quando comecei a trabalhar com editores de textos, achava que o melhor deles era o WordStar em CP/M 80. Isso foi até descobrir o WordPerfect rodando em PC-DOS. Que maravilha! Tudo bem que a interface deixava um pouquinho a desejar. Ao chamar o programa, digitando wp na linha de comando, a tela ficava azul e o cursor ficava lá piscando no canto superior esquerdo da tela. Só isso. Assustava no começo mas depois de pegar o “jeitinho”, o poder de fogo do wp era imbatível.

Fiquei tão fã que quando a WordPerfect lançou uma versão para Windows (3.1) com uma opção de compatibilidade para OS/2, não tive dúvidas: comprei uma cópia. Tenho a caixa com os disquetes até hoje enfeitando a estante.

Um belo dia testei, e gostei, de um pacote nativo para OS/2, o StarOffice. Para mim era um conceito novo, um software que podia ser baixado de graça por pessoas físicas e que oferecia suporte pago para quem dele precisasse. Com uma interface nova em abas que integrava não apenas as funções de um pacote de escritório tradicional mas também um cliente de correio e um navegador web, logo passei a usar o StarOffice de forma exclusiva. Até a Sun comprar a StarDivision e fazer história, liberando o código do produto e iniciando o projeto OpenOffice.org.

O resto, como se diz, é história.

De lá para cá, no entanto uma coisa mudou: a forma como encaramos os documentos textuais. Até a chegada do ODF com o OpenOffice.org não havia separação clara entre o documento e o programa que o havia gerado. Isso gerava situações complicadas para mim que usava o WordPerfect.

Como vocês podem imaginar, o WordPerfect nunca foi muito popular no Brasil onde o Word 6 era mais usado e copiado. Com isso, muitas vezes me via na situação de ter que exportar um documento para um formato “neutro” que pudesse ser lido pelo Word. Quando era necessário preservar a formatação, não tinha jeito, a única solução era imprimir e mandar uma cópia por correio ou fax.

Entre outros méritos, o OpenOffice.org lançou a ideia que um documento eletrônico deve ser gravado em um formato aberto que seja independente do software que o gerou. Chegamos a um ponto onde este texto começou a ser escrito no LibreOffice, passou pelo novo OpenOffice e, para abusar da sorte e do ponto, foi terminado no AbiWord. Em todos usando o mesmo arquivo .ODT (OpenDocument Text).

É disso que se trata o lançamento do Apache OpenOffice 3.4, de mais um produto de qualidade que suporta e incentiva o uso do ODF como padrão para o armazenamento de documentos eletrônicos. Não se trata de competição mas sim de coopetição: diversos produtos concorrentes promovendo um interesse mútuo. No nosso caso, o padrão de documentos.

Quem quiser ficar de birra, que fique. Mas se você precisa de uma alternativa livre para abrir aqueles malditos arquivos .VSD, fique com o LibreOffice. Se a sua empresa tem restrições legais com relação ao uso de software GPL (sim, estou incluindo a LGPL nessa categoria), o Apache OpenOffice é uma excelente opção. Se a sua conexão for lenta e você acabou de instalar o Ubuntu com o Gnome Shell, use o AbiWord que funciona muito bem. O importante é usar e promover o ODF. Não interessa qual o seu editor de textos, sua planilha ou o seu programa de apresentação. O que interessa é que os documentos que você produza sejam gravados em um formato que não exija um software específico para ser lido.

E nesse quesito, quanto mais opções, melhor.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A fragilidade da marca

É impressionante como um pequeno serviço pode abalar tanto a visão que temos de uma marca. Passamos anos ouvindo que a concorrência (e os maridos das atrizes das propagandas) não eram "assim, uma Brastemp". Fixou-se a marca como algo confiável, diferente daquilo que encontrávamos no mercado.

Indo para um mês de geladeira quebrada e com um pedido de peça feito em 16 de março que até hoje não chegou a Brasília, vejo que o serviço da Brastemp não é "assim, uma Brastemp". Na verdade não chega nem perto da expectativa.

É triste ver que o trabalho de desenvolvimento de uma marca fica restrito ao produto. Vender é tão importante que as organizações se esquecem dos clientes já conquistados. Assim que vendem, o problema deixa de existir. E não estou falando das empresas locais de assistência técnica. Não há estrutura para suportar o cliente. Na verdade não há cliente. Parece haver apenas uma unidade de atenção especial ao potencial comprador.

Manter estoques regionais de peças que, diga-se de passagem não são perecíveis, é o mínimo que se pode esperar de uma empresa que vende em nível nacional para garantir a satisfação de seus clientes.

Quando vejo uma empresa que demora mais que três semanas para enviar uma peça que poderia ter chegado em dois dias pelo Correio mostra que no mercado não somos clientes somos apenas compradores.

sábado, 24 de setembro de 2011

De Livros e eLivros

Li hoje um tweet da @saladeprensa, "retuitado" pelo @cssoares que me pôs a pensar sobre livros físicos e eletrônicos.
 
A UNESCO definiu, em 1964, um livro como sendo um impresso não periódico de 48 páginas ou mais, excluindo as capas, publicao no país e acessível ao público[1]. Esta definição foi acolhida no Brasil pela ABNT na NBR 6029 que o define como sendo uma “Publicação não periódica que contém acima de 49 páginas, excluídas as capas, e que é objeto de Número Internacional Normalizado para Livro (ISBN).”[2]
 
Em comum estas definições vêm de um tempo em que conteúdo e suporte eram inseparáveis. Nada mais lógico que definir o livro pelo que pode ser quantificado de forma indiscutível, o número de páginas. Ou seja, um livro é um produto físico.
 
Estas definições também refletem a forma como o mercado editorial era organizado, com clara distinção entre as funções de autor, editor, distribuidor e revendedor. Cada um representando um elo da cadeia de distribuição de um produto que chamamos de “livro”.
 
Mesmo no caso de autores que se auto-publicam, os elementos desta cadeia de distribuição se mantém. A diferença fica apenas a cargo de quem assume o risco financeiro da publicação. Em situações “normais”, a editora assume o risco adquirindo os direitos de publicação do autor distribuíndo o livro às livrarias que se encarregam de fazer a ponte final com o consumidor (no caso, nós leitores).
 
O modelo tradicional continua ativo. No mercado norte-americano, a venda de livros chegou a US$ 11,67 bilhões em 2010 com os livros eletrônicos atingindo vendas de US$ 49,5 milhões.[3] Apesar de relativamente pequeno, a venda de eBooks, os tais livros eletrônicos (ou digitais), cresceu 164,8 por cento de 2009 para 2010, demonstrando que os livros eletrônicos não são uma moda passageira e vão representar um peso cada vez maior no mercado editorial como um todo.
 
No Brasil, os dados são controversos, incertos e confusos mas há a certeza que o brasileiro lê pouco. Seja pelo preço dos livros, seja por deficiências na educação, o fato é que o mercado editorial brasileiro não chega nem aos pés do norte-americano.
 
Uma apresentação publicada pelo Carlo Carrenho[4], ilustra bem a nossa situação. Enquanto é possível encontrar milhares de títulos originais em inglês na Amazon, no Brasil, em 2010, havia apenas 5.000 (cinco mil) títulos com uma grande sopreposição entre os catálogos dos fornecedores.
 
Estes mesmos estudo mostram que o modelo tradicional de manter conteúdo e suporte unos, persiste. As vendas de livros eletrônicos estão fortemente vinculadas a uma família de novas máquinas de leitura, os e-Readers sendo o Kindle, da Amazon e o Nook da Barnes & Noble os mais representativos lá fora. Há também outros leitores como o Cooler e o iRiver além do Alfa, produzido pela Positivo aqui no Brasil. Todos estes leitores trazem consigo o mesmo conceito de aprisionamento do conteúdo ao suporte. O Nook não exibe livros vendidos pela Amazon e o contrário também é verdadeiro para o Kindle que não exibe os livros vendidos pela Barnes & Noble. Os demais utilizam a tecnologia do Adobe Digital Editions para garantir a vinculação do conteúdo ao formato exigido pelas editoras.
 
Todos estes leitores também conseguem ler um padrão aberto, o ePub, mantido pela IDPF[5] mas nem todas as editoras fazem questão de publicar seus livros neste formato.
 
O mercado editorial faz um esforço gigantesco para transpor o modelo “tradicional” para o novo mundo eletrônico, destacando as vantagens deste ou daquele equipamento de leitura para atender aos seus interesses. Não há números mas ao ver o destaque do Kindle e do Nook nas páginas das empresas que os vendem, nota-se que é mais importante vender o equipamento. Os livros vem como consequência. Um comportamento muito parecido com o mercado de jogos eletrônicos.
 
Desde o início das discussões sobre a utilização de padrões abertos para documentos eletrônicos ficou claro que não é mais ético vincular o conteúdo ao seu suporte. Empresas de software continuam a tentar provar o contrário, agindo da mesma forma que Amazon e Barnes & Noble na promoção dos seus eReaders. Os produtos é que são promovidos como desejáveis e não o conteúdo para o qual foram projetados para exibir.
 
E no Brasil?
 
Não tenho dados, apenas uma coleção de experiências pessoais ao tentar comprar livros eletrônicos da Livraria Cultura e da Saraiva. Nos dois casos, desisti. O pequeno número de títulos originais em Português desestimula. Se for para comprar literatura estrangeira, compro o original na Amazon e leio no meu Kindle para Android por um preço muito menor. Segundo, pela Cultura usar o Adobe Digital Editions, ferramenta que não funciona no Linux. Sem essa ferramenta, não posso baixar e “instalar” os livros da Cultura no meu dispositivo de leitura. No caso da Saraiva, há um software para Android que cheguei a instalar mas pequena quantidade de títulos originais me desestimulou. Continuo comprando livros eletrônicos na Amazon.
 
Mesmo assim, vejo uma luz no fim do túnel.
 
Livros eletrônicos auto-publicados
 
Iniciativas como o Projeto Guttemberg[6] e o SmashWords[7] surgem como alternativas ao mercado livreiro tradicional. Hoje é possível a qualquer um publicar seu próprio livro eletrônico em formato aberto e distribuí-lo através de sítios na Internet.
 
Livrarias eletrônicas como o SmashWords, tornam a vida do autor um pouco mais fácil e a do leitor mais ainda, pois distribuem conteúdo que as editoras tradicionais não acreditam valer o risco.
 
Novos autores tem nestas editoras virtuais um local onde podem expor o seu talento, descobrindo os seus leitores de forma mais direta e aumentando o acervo cultural que hoje é represado pelo modelo econômico ao qual as editoras sujeitam os seus clientes.
 
Se pelo modelo antigo, auto-publicar era uma aventura cara que resultava em pilhas de livros estocados em casa, hoje, com o livro eletrônico, novos autores tem uma chance de se tornarem conhecidos pela qualidade de suas obras.
 
Definir para pensar
 
Uma nova definição de livro se faz necessária em tempos de Internet. Definir o que seja um livro eletrônico, digital, eBook ou qualquer outro nome pelo qual se queira chamá-lo é necessário para permitir uma nova forma de pensar o mercado editorial.
 
Há uma indústria por trás do que chamamos, hoje, de livro. Uma indústria que foi organizada em torno de um conceito físico e que faz de tudo para que esse mesmo conceito seja apenas transposto para o meio digital.
 
O impacto da Internet na música já mostrou que não é possível fazer essa transposição. É preciso pensar o novo como novo e não como uma mera extensão do que já existe. Precisamos repensar o livro.

[1] Resolução da UNESCO de 1964, p. 144. http://unesdoc.unesco.org/images/0011/001145/114581e.pdf
[3] 2010 Book and E-Book Sales Data for the United States. John Soares. http://productivewriters.com/2011/02/16/book-e-book-sales-data-united-states-2010/
[5] EPUB. IDPF. http://idpf.org/epub

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Produtos e Padrões


Novamente começam a circular pseudoinformações cujo único objetivo é o de confundir produtos com padrões. Em busca da defesa de um mercado de bilhões (com B mesmo) de dólares, certas empresas voltaram a atacar com um discurso que, para quem acompanhou as discussões à época da padronização do ODF e do OpenXML, beira o ridículo.

Falam de recursos de produtos como se fossem parte dos padrões de representação de arquivos de documento como se estes recursos fossem parte do próprio padrão. Falam de como um padrão é superior a outro porque é melhor implementado em um produto específico. Falam de como um padrão é superior porque implementa melhores recursos de segurança e estruturas de representação.

De forma conveniente, deixam de fora da discussão o fato que padrões de documentos foram criados para permitir desvincular o arquivo do produto que o gerou. O fato deste ou daquele padrão ser suportado por um ou outro produto não é o ponto relevante. Não é a fatia do mercado que estabelece a superioridade de um padrão. No final das contas, o objetivo de um padrão como o ODF não é ser “melhor” que outro. O objetivo do ODF é garantir que documentos produzidos hoje não sofram a sina do Carta Certa ou do Word para DOS. O primeiro não conta mais com produto que o abra enquanto o segundo precisa de um filtro adicional instalado na versão corrente de forma opcional para fazê-lo.

Ao confundir recursos de produtos com o padrão de geração do arquivo, cria-se um desvio na discussão que leva a conclusões erradas: preciso desta função, logo não posso usar o ODF. Há aqui uma inversão do raciocínio que parte da falsa premissa que um padrão não evolui. Que um padrão, uma vez estabelecido, fica engessado, condenando os seus usuários ao “atraso” e à perda de acesso a “inovações”.
Nos próximos dias o ODF 1.2 deve ser aprovado na OASIS. Em seguida, será enviado para a ISO para votação e, se tudo correr conforme o processo normal da ISO, deve ser aceito como ISO 26300:2011. É importante notar que não se trata de um novo padrão ISO mas de uma revisão a um padrão existente. Assim como outros padrões publicados pela ISO e mantidos por organismos de padronização reconhecidos, o padrão ISO 26300 também evolui e será atualizado em breve.

A fumaça lançada ao vento neste momento mostra que há empresas preocupadas com o impacto que uma atualização ao ODF causará aos seus mercados. O ODF evolui e incorpora necessidades de representação de informações das quais as pessoas precisam. O discurso de funcionalidade de produtos, baseado apenas no marketing e na presença de mercado, se fragiliza com a demonstração clara que padrões evoluem e são atualizados de acordo com necessidades reais.

Os sinais de fumaça já estão indicando que o processo na ISO para a homologação do ODF 1.2 não será tranquilo. 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Não interessa como foi a reunião

O importante é voltar para a sua mesa com a cabeça erguida!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Hiperdecantação - Heresia ou Blasfêmia?

Heresia. s. f. Divergência em ponto de fé ou doutrina religiosa[1]
Blasfêmia. s. f. Dito ímpio ou insultante contra o que se considera como sagrado[1]
Hiperdecantação. s. f. Bater o vinho no liquidificador
Se é heresia ou blasfêmia, deixo o julgamento a cargo do leitor. O que vou relatar aqui é uma experiência prática com essa prática descrita no "Modernist Cuisine: The Art and Science of Cooking". A teoria faz sentido. Além de permitir a separação "educada" da borra, decantamos um vinho para permitir que a oxidação libere novos sabores e também os segredos escondidos nas moléculas aromáticas presas ao álcool.

Então, por que não acelerar o processo? Se um vinho precisa de alguns minutos a algumas horas (diz a lenda que em alguns recantos italianos até alguns dias) para que a mágica do oxigênio libere a riqueza oculta de uma garrafa de vinho, por que não incorporar o oxigênio de maneira mais vigorosa e rápida, eliminando a maior parte do tempo da equação da melhor bebida? Me parece ser esse o princípio por trás da tal hiperdecantação.

O Experimento

vítima amostra escolhida foi um Finca Sur Malbec 2009. Escolhi esse vinho específico por ser um vinho jovem demais, desconfortavelmente ácido (especialmente quando comparado ao excelente 2008 sobre o qual escrevi aqui) e também porque eu já o havia experimentado alguns dias antes. Desta forma, ficou fácil fazer uma comparação mais objetiva (se é que isso é possível).

Minha vítima amostra














Para verificar de forma mais objetiva qualquer mudança na amostra, selecionei dois queijos, um brie bem maduro e uma boa fatia de queijo de cabra.

Os acompanhamentos













O passo seguinte incomodou bastante. Lançar o conteúdo da garrafa no liquidificador já não foi fácil. Esperar os 60 segundos preconizados no tal livro de cozinha molecular então, uma eternidade.

É assim que se parece um Malbec no Liquidificador













Depois de eternos 60 segundos (um minuto inteiro!), desliguei o liquidificador e o conteúdo mais parecia um copo de chope de uva.
Motor desligado













Em menos de cinco segundos, a espuma se desfez
Com ou sem colarinho?












E sumiu completamente

Sem colarinho, por favor.













Achei que servir direto do copo do liquidificador era um pouco demais e passei o pobre Malbec a um decânter. Começou, então, a aventura de verdade.

Surpresas agradáveis

A primeira coisa que me chamou a atenção (na verdade foi quase um tapa na cara) foi o repentino realce no aroma de frutas. Não foi uma coisa sutil. Foi um golpe inesperado. O bouquet (chique, não?) mudou completamente. Frutas vermelhas saltavam da taça com uma vivacidade que ainda não havia encontrado neste vinho. Na boca, a surpresa foi tão surpreendente quanto o aroma. Não havia mais acidez. Depois de sessenta segundos no liquidificador, este jovem malbec havia sido completamente domado! De um jovem e áspero vinho parrillero este Finca Sur tornou-se um educado e suave companheiro de um brie devidamente fermentado, preferindo-o ao áspero e aromático pur chèvre que selecionei.

Como estava experimentando só, pude observar como o vinho mudava à medida que o tempo passava. Depois de 25 minutos no decânter, aromas mais pesados começaram a aparecer. Um aroma de queimado muito distinto se tornou presente mas não chegou a atrapalhar a degustação. A acidez deste vinho não voltou e, apesar de todo o agito, também não pareceu perder nada do álcool.

Conclusões

É difícil ser objetivo depois de uma garrafa inteira de vinho, mas mesmo assim vou tentar. (Minhas anotações, em garranchos progressivamente mais e mais ilegíveis, me suportam). Objetivamente, o vinho mudou. Não posso dizer se foi por efeito placebo ou não, mas que mudou, mudou. O que mais me impressionou é que o vinho mudou para melhor, para muito melhor. Tornou-se um vinho educado, suave pronto para acompanhar pratos mais delicados.

Não é um hábito que pretendo generalizar. Também não recomendo que se bata um Chateau Margaux. (Mesmo que você tenha ganhado sozinho uma loteria de alguns, muitos, milhões) em um Walita (use, pelo menos, um Kitchenaid). Só posso dizer que funcionou, e bem, para o Finca Sur Malbec 2009. Não posso afirmar, nem recomendo, que se faça isso com outros vinhos.

A aeração forçada de um vinho parece comprovar de forma exagerada o que sempre falamos sobre estes poemas engarrafados. Nas palavras de Georg Riedel, decantar um vinho é "um respeito pelos mais velhos e um sinal de confiança nos mais  jovens."

Acho que os "jovens" aguentam um passeio mais "radical". Os mais velhos, estes certamente merecem um respeito maior.